sábado, 31 de maio de 2014

At 13.48 – ordenado ou predestinado?


E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna (At 13.48).
Esta passagem é muito usada pelos calvinistas para tentar provar a doutrina da eleição incondicional. Praticamente todos os calvinistas a usam. Berkhof a cita em sua Teologia Sistemática, uma vez em favor da eleição incondicional, outra da vocação eficaz.[1]  Pink nos conta que “todas as artimanhas da engenhosidade humana têm sido empregadas para obscurecer o significado deste versículo e para explicar de outro modo o sentido óbvio de suas palavras; mas todas as tentativas têm sido em vão; de fato, nada pode conciliar esta e outras passagens semelhantes com a mente do homem natural.”[2] John Gill sustenta que “a fé não é a causa, ou a condição do decreto da vida eterna, mas um meio fixado nele, e é fruto e efeito dele, e o que certamente segue dele.”[3] Boettner parece concordar com Gill quando diz que “basear a eleição na fé prevista é dizer que somos ordenados à vida eterna porque cremos, ao passo que as Escrituras declaram o contrário.”[4] O próprio Calvino, comentando At 13.48, diz: “Esta passagem ensina que a fé depende da eleição de Deus.”[5]Citar outros calvinistas não acrescentaria em nada ao que já foi dito. J. O. Buswell é um dos poucos calvinistas que não compartilha dessa opinião.[6]
A disputa entre calvinistas e arminianos gira em torno da palavra “ordenados” (gr. tetagmenoi, pretérito perfeito passivo de tasso), um termo que significa ‘ordenar,’ ‘colocar em uma certa posição ou ordem,’ ‘dispor.’ O comentarista Adam Clarke diz que a palavra “não inclui nenhum idéia de preordenação ou predestinação de qualquer espécie.”[7] É a mesma opinião de Wesley, quando diz: “É observável, a palavra original não é nenhuma vez usada na Escritura para expressar predestinação eterna de qualquer sorte.” [8] Essas observações de Clarke e Wesley quanto ao significado da palavra são importantes, mas elas não servem para colocar um ponto final na questão. É digno de nota que a Versão Siríaca traz, em At 13.48, a expressão “foram destinados” e a Vulgata, “tantos quantos foram preordenados à vida eterna (quotquot erant praeordinati ad vitam aeternam).”
A palavra tasso é usada 8 vezes na Bíblia, com os sentidos de:
- comandar ou designar:
Partiram, pois, os onze discípulos para a Galiléia, para o monte onde Jesus lhes designara (Mt 28.16).
Então disse eu: Senhor que farei? E o Senhor me disse: Levanta-te, e vai a Damasco, onde se te dirá tudo o que te é ordenado fazer (At 22.10).
Havendo-lhe eles marcado um dia, muitos foram ter com ele à sua morada, aos quais desde a manhã até a noite explicava com bom testemunho o reino de Deus e procurava persuadí-los acerca de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas (At 28.23).
- instituir, constituir ou apontar:
Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus (Rm 13.1).
- determinar, tomar conselho, resolver:
Tendo Paulo e Barnabé contenda e não pequena discussão com eles, os irmãos resolveram que Paulo e Barnabé e mais alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, por causa desta questão (At 15.2).
- sujeitar-se à autoridade de alguém:
Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz (Lc 7.8).
- dedicar-se a:
Agora vos rogo, irmãos – pois sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaía, e que se tem dedicado ao ministério dos santos (1Co 16.15).
Como pode ser visto, nenhum desses significados carrega a idéia de preordenação ou de algum decreto divino feito na eternidade. A palavra tasso é de origem militar, usada no sentido de ‘dispor soldados em ordem de acordo com a vontade de um oficial.’
A interpretação calvinista não é absolutamente necessária nesta passagem por algumas razões:
1)    a palavra “ordenados” também pode significar “dispostos.” Assim, o verso ficaria “todos quantos estavam dispostos à vida eterna creram.” Por quem dispostos, o verso não diz. Dean Alford concorda com esta tradução. E acrescenta: “Encontrar neste texto uma afirmação de preordenação à vida é forçar tanto a palavra quanto o contexto a um significado que eles não contêm.”[9]
2)    “A livre auto-determinação da vontade humana é tão pouco negada quanto afirmada nesta passagem; umdecretum absolutum não está de forma nenhuma envolvido em tetagmenoi.”[10] O contexto não parece apontar para uma fé como conseqüência da eleição divina, mas de uma livre-escolha pessoal, obviamente guiada por Deus. Aqueles que estavam ordenados à vida eterna, antes de crerem, estavam desejosos de ouvir a Palavra de Deus, como alguns versos antecedentes mostram:
Quando iam saindo, rogavam que estas palavras lhes fossem repetidas no sábado seguinte… No sábado seguinte reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus (At 13.42, 44).
Portanto, mesmo se interpretar tetagmenoi como um arranjo prévio por Deus, At 13.48 não traria qualquer problema, visto que as pessoas ordenadas responderam positivamente à graça de Deus antes de obterem fé salvífica. Deus, em Sua onisciência, sabendo de antemão a disposição dos seus corações, a receptividade de cada um à Palavra, e que, se sobre esses exercesse Sua graça, eles iriam crer, poderia tê-los ordenados para a vida eterna e lhes concedido fé.
3)    Alguns comentaristas defendem uma outra ordem para o verso. Também seria correto, segundo Leander S. Keyser: “E creram, todos quantos estavam dispostos, determinados, ou firmes para a vida eterna.”[11] Isso é confirmado  por W. E. Vine em seu Expository Dictionary of New Testament Words, onde se pode ler do significado de “ordenados”: “É dito daqueles que, tendo crido no Evangelho, ‘foram ordenados à vida eterna,’ At 13.48.”[12]
Seja qual for a ordem das frases, “não há nenhuma evidência de que Lucas tinha em mente um absolutum decretum de salvação pessoal.”[13]
4)    Antes da vinda de Cristo certamente havia algumas pessoas já salvas, que haviam crido na mensagem redentora dada por Deus no Velho Testamento, e que mantinham uma relação pessoal com Deus. Antes da conversão de Cornélio, por exemplo, a Bíblia o mostra como um “homem justo e temente a Deus” (At 10.22). A ele apenas ainda não havia sido apresentado o Evangelho de Cristo. Essa situação foi única na história da igreja e obviamente não existe mais. Portanto, Lucas poderia estar falando, em At 13.48, daqueles que, já no caminho da salvação, apenas creram na mensagem de Cristo. Não que todos que ouviram o discurso de Paulo naquele momento já eram salvos, mas a referência poderia ser a esses. Essa interpretação é defendida por F. Leroy Forlines.[14] Esta posição é apoiada pelo fato de que os crentes do v. 48 muito provavelmente faziam parte dos “judeus e prosélitos devotos [ou religiosos]”, a quem Paulo e Barnabé exortaram para “perseverarem na graça de Deus” (13.43) um sábado antes.
5)    Crisóstomo (347-407), considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental, indica que a palavra ‘ordenados’ assume o sentido de ‘reservados para Deus.’ Da obra Saint Chrysostom: Homilies on the Acts of the Apostles and the Epistle to the Romans, de Philip Schaff, a seguinte nota de George B. Stevens pode ser vista: “A expressão ‘creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna’ tem sido tanto minimizada quanto exagerada. Crisóstomo aponta o caminho para sua correta interpretação ao dizer ‘reservados para Deus’ e adiciona em seguida ‘não com referência à necessidade.’ O escritor não está de forma alguma buscando definir uma doutrina do plano divino em seu efeito sobre a auto-determinação humana, mas apontando uma seqüência histórica. Aqueles que se tornaram crentes verdadeiramente estavam dentro do plano de Deus. A passagem não diz nada da relação do ordenamento de Deus com a escolha do crente. É um exemplo do tipo de pensamento paulino que baseia a salvação no eterno propósito de Deus. Quem quer que seja salvo, de fato, foi salvo pelo propósito de Deus. Se realmente eles são salvos sob a condição da fé e não através da coação de um decretum absolutum, então é certo que sua salvação, como prevista no propósito de Deus, não exclui sua auto-determinação e aceitação pessoal.”[15]
6)    “Na verdade, alguns entendem que o verbo está na voz média, e não na passiva, e traduzem o texto assim: ‘e tantos quantos destinaram-se a si mesmos [mediante sua reação positiva aos apelos do Espírito] para a vida eterna, creram’.” (David J. Williams, Novo Comentário Bíblico do Livro de Atos)
7)    Lucas não diz preordenados mas ordenados.
Alford, citando Wordsworth, nos revela que a construção da idéia de uma preordenação à vida eterna pelos calvinistas em At 13.48 vem da imprópria tradução da Vulgata, uma versão “com inúmeras falhas, imprecisões, inconsistências, e colocações arbitrárias nos detalhes.”[16] Ele diz: “O Dr. Wordsworth bem observa que seria interessante perguntar, Que influência estas traduções na Versão Vulgata (‘preordenados’) teve nas mentes de alguns, como Santo Agostinho e seus seguidores na igreja ocidental, ao tratar as grandes questões do livre-arbítrio, eleição, reprovação, e perseverança final? O que mais foi resultado dessa influência nas mentes de alguns escritores das Igrejas Reformadas, que rejeitaram a autoridade de Roma, que quase canonizou essa versão; e todavia nestes dois importantes textos (At 2.47; 13.48) foram influenciados por ela, se distanciando do sentido do original? A tendência dos pais orientais, que liam o grego original, foi em uma direção diferente daquela da escola ocidental; e o Calvinismo não pode receber nenhum apoio destes dois textos, tanto quando colocados diante das palavras originais da inspiração como quando esclarecidos pela Igreja primitiva.”[17]
Conforme nos informa Gleason L. Archer, Jr: “Em 382, Jerônimo foi comissionado pelo Papa Damaso para revisar a Itala em confronto com a Septuaginta Grega (embora que Jerônimo já conhecesse o hebraico, Damaso não tinha pretendido originalmente nada tão radical como seria uma nova tradução latina do hebraico original).”[18] A Itala foi uma versão latina, traduzida a partir da Septuaginta. A Vulgata foi uma tentativa de trazer a Itala mais próxima da Septuaginta. Como pode ser notado, a Vulgata não foi uma tradução direta do original. É interessante notar que a Vulgata surgiu na época em que Agostinho vivia.  Mais interessante ainda é que esta versão carregava forte influência dos ensinos de Agostinho, principalmente no que se referia à predestinação e à negação do livre-arbítrio. Fluente em latim, Calvino também usou muito a Vulgata. Isto porque a Vulgata foi praticamente, por mil anos, a única Bíblia conhecida e lida na Europa Ocidental.
Após sugerir estas outras interpretações, os calvinistas muito provavelmente podem estar dizendo, como Spurgeon: “Tentativas têm sido feitas para comprovar que essas palavras não ensinam a predestinação. Tais tentativas, porém, violentam o claro sentido da linguagem, de tal maneira que nem merecem que se gaste tempo em lhes dar resposta.”[19] Mas a interpretação dos calvinistas cria um sério problema para eles, como demonstrarei a seguir.
Boettner diz de At 13.48 que “todos quantos estavam ordenados para a vida eterna (e somente eles) creram.”[20] O acréscimo “e somente eles” parte de uma conclusão inevitável. Se tomada a interpretação calvinista, então “todos quantos,” ou seja, todos os que estavam ordenados para a vida eterna, daqueles que estavam presentes dentre “quase toda a cidade” (At 13.44), creram. Isso significa dizer que os demais, que não creram naquele exato momento, não estavam ordenados à vida eterna, ou seja, eram reprovados e estavam predestinados à perdição eterna. Só que dificilmente algum calvinista acredita nisso. Se continuam defendendo a sua interpretação é porque, muito provavelmente, ainda não se deram conta dessa implicação.
At 13.48, portanto, não é de fácil interpretação. Mas de forma alguma esta passagem evidencia a fé como conseqüência da eleição incondicional, como o Calvinismo propõe. A interpretação dos calvinistas é possível, mas muito improvável, dadas as suas implicações indesejáveis.
[1] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pg. 116, 471.
[2] Arthur W. Pink, Deus é Soberano, p. 53.
[3] John Gill, Comentários sobre At 13.48, John Gill’s Exposition of the Entire Bible.
[4] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination.
[5] John Calvin, Comentários sobre At 13.48, Calvin’s Commentaries.
[6] J. O. Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion, v. 2, p. 152-3.
[7] Adam Clarke, Comentários sobre At 13.48, Adam Clarke’s Commentary on the Bible.
[8] John Wesley, Comentários sobre At 13.48, John Wesley’s Explanatory Notes.
[9] Dean Alford, New Testament for English Readers, Vol. I, Parte II, p. 745).
[10] Lange, Commentary on the Holy Scriptures: Acts, p. 258.
[11] Leander S. Keyser, Election and Conversion, pp. 129-130.
[12] W. E. Vine, Expository Dictionary of New Testament Words, Vol. I, p. 68.
[13] A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament, The Acts, p. 200).
[14] F. Leroy Forlines, The Quest For Truth, p. 388-390.
[15] George B. Stevens, citado em Philip Schaff, Saint Chrysostom: Homilies on the Acts of the Apostles and the Epistle to the Romans.
[16] Philip Schaff, History of the Christian Church.
[17] Dean Alford, The New Testament in the Original Greek, with Introduction and Notes, por Chr. Wordsworth, “The Acts,” p. 108).
[18] Gleason L. Archer, Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 50.
[19] Charles Spurgeon, citado em Arthur W. Pink, Deus é Soberano.
[20] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination.
Nota do CACP: O texto abaixo é escrito por um autor arminiano. Como já informamos, temos em nosso grupo de colaboradores calvinistas moderados, arminianos e wesleyano… O texto abaixo faz parte de vários artigos incluídos na coluna de debates evangélicos.

Judas foi predestinado para trair Jesus?

Judas Iscariotes era predestinado por Jesus ao lago de fogo mesmo antes ou depois da fundação do mundo?
Nesse artigo eu quero tratar de um dos apóstolos escolhido por Deus cujo nome era  Judas Iscariotes ou    אִישׁ־קְרִיּוֹת  יהוּדָה ( Hbr. Yehudhah ish Qeryoth). Iscariotes não era seu sobre nome e sim a aldeia de onde ele viera segundo São Jerónimo – seria o nome simplificado da aldeia, ou mais provavelmente um conjunto de aldeias, de Queriote-Ezron (Josué 15:25) – nome que significa “cidades de Ezron” – localizada na província romana da Judeia (no território da Tribo de Judá) e que é comumente identificada com a moderna Qirbet el-Qaryatein, situada a cerca de 20 km a sul de Hebron, ou seja, ele era o único não galileu.
Judas se tornou conhecido por ter traído Jesus, o homem que tanto o instruiu nos sermões dos montes, sinagogas, templo e etc. Há um ritual In Memorian conhecido como ‘Malhação de Judas ou Queima de Judas’ é uma tradição vigente em diversas comunidades católicas e ortodoxas que foi introduzida na América Latina pelos espanhóis e portugueses. É também realizada em diversos outros países, sempre no Sábado de Aleluia, simbolizando a morte de Judas Iscariotes.
Mas o que levou Judas a participar do consórcio para matar Jesus? Será que Cristo o escolheu para tal tarefe horrorosa, ou por ventura já era profética tal atitude e ele não podia resistir? Deus havia programado Judas a participar da morte do seu filho, ou  Ele pela sua presciência sabia que seria Judas? Para responder a essas questões eu separei alguns pontos que mostram que era impossível que Judas fosse predestinado ao lago de fogo simplesmente por um decreto manipulador da parte do Criador. Mostrarei que Jesus não foi injusto com Judas em nenhum momento e que ele teve todas as chances possíveis!
1º No capítulo 22 e nos versos 14-30 do evangelho de Lucas, é narrada uma reunião onde Cristo instituiu a ceia e que  de forma indiscutível são apresentadas 13 pessoas sendo uma delas Jesus e o restante seus ➜12 apóstolos.
Nessa mesma festividade Jesus refaz a promessa que Ele havia feito há tempos atrás quando após anunciar as boas novas ao jovem rico ele prometeu que os➜12 apóstolos se assentariam em ➜12 tronos para julgar as ➜12 tribos de Israel (Mt 19:28) e após repetir essa promessa aos➜12 apóstolos ele faz mais uma, vejamos:
“E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco(12) no reino de meu Pai.” (Mt 26.29).
Observem que Jesus Cristo reforça ainda mais o seu encontro com os 12 apóstolos presentes na mesa da ceia. Para os que creem na doutrina da predestinação fatalista fica vários questionamentos insolúveis diante das evidências bíblicas. Isso nos mostra claramente que essa doutrina desenvolvida no século XVI nunca foi crida pelos apóstolos ou pelos pais da igreja. Os predestinacionistas fatalistas ensinam que Jesus quando fez essas promessas não incluiu a Judas pelo simples fato de não ter citado entre os nomes dos➜ 12 que se “assentariam nos” ➜12 tronos para julgar as ➜12 tribos chegando até a insinuarem que Jesus fizera as promessas aos 11 apóstolos e que ou Paulo ou Matias estaria sendo insinuado por Jesus nessa noite, embora ele tenha citado o número de tronos que os tais que estavam na ceia se assentariam. E há os que creem que o fato de não aparecer no NT Judas chamando Jesus de Senhor é uma forte prova que ele não era crente de verdade. Todavia essa forma de pensar se torna um erro gravíssimo de interpretação de texto, pois nos textos onde aparece Jesus fazendo essas promessas, sempre é citado os pronomes oblíquos átonos e tônicos, VÓS, VOS e CONVOSCO, pronomes aplicados aos 12 apóstolos originais dentro desse contexto, pois como foi dito no início só estavam presentes Jesus e os seus 12 discípulos. E o fato de não aparecer no Novo testamento o apóstolo Judas chamando Jesus de Senhor em nada influi uma vez que também não vemos Bartolomeu e nem Simão o Zelote assim o chamar.
2ª Não entendemos que Judas fora predestinado ao lago de fogo por um decreto arbitrário da parte de Deus, visto que no texto bíblico são mostradas várias dádivas que somente um crente verdadeiro pode tê-las, como bem podemos ver a seguinte:
“Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades.
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos;
  Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10:1-8 ARA)
Como lemos, Judas recebeu dádivas espirituais na mesma proporção dos demais apóstolos e ainda Jesus o enquadrou naqueles que iriam ser entregues aos sinédrios por amor do seu nome, mas que nenhum dos apóstolos temessem na hora de falar, uma vez que quem falaria por ele seria o Espírito Santo, mas que somente os que perseverassem até o fim poderiam ser salvos (Mt 10.22).
Mas há quem questione que Judas era o diabo, porem o texto diz “um diabo” e não “o diabo”, não há esse artigo definido no texto grego e sim o adjetivo cardinal εἷς :
ἀπεκρίθη αὐτοῖς ὁ Ἰησοῦς· οὐκ ἐγὼ ὑμᾶς τοὺς δώδεκα ἐξελεξάμην; καὶ ἐξ ὑμῶν ➜ εἷς διάβολός ἐστιν.
(Joh 6:70 BNT).
Logo, quando Jesus se referiu dessa forma, ele estava comparando a atitude que Judas iria cometer como as do diabo e não que ele fosse o adversário de nossas almas, posto que se Judas fosse o diabo como alguns acham, como Jesus iria dar-lhe poder para exorcizar Satanás se ele era o próprio?
“Como pode Satanás expelir a Satanás?” (Mc 3:23).
3º Se Judas fosse predestinado por Deus ao sofrimento eterno e sem nenhuma chance de ter outro destino, como poderia Jesus ter pronunciado a palavra “amigo”? Palavra explicitada em aramaico e registrada pelo apóstolo João em grego como ταρε, que segundo os léxicos e dicionários de Walter Bauer  BDAG; TDNT; EDNT; FRIBERG; LS; LEH;UBS; THAYER; GNT; LIDDELL-SCOTT e ainda LOW-NIDA da Sociedade Bíblica do Brasil pág/ 400 e o dicionário de STRONG atestam que esse vocábulo significa amigo, companheiro de lutas, camarada, meu amigo e etc…, ele a teria pronunciado como forma hipócrita, pois eu creio que Jesus quando disse “amigo”, Judas era seu amigo mesmo e que Jesus o amou até o fim (Jo 13) como fez ao orar ao Pai que não imputasse culpa aos que o crucificavam visto que eles NÃO sabiam o que estavam fazendo (Mt 27:3-4)?
Deus, na sua presciência, sempre soube que Judas faria tudo o que fez, mas isso não significa que ele não teve todas as oportunidades de fazer seu destino diferente. Judas não poderá acusar ao Soberano do Universo de ter manipulado seu destino e o predestinado de maneira arbitrária a ser um traidor desprezível. Judas deu lugar ao diabo tanto quanto Pedro. Matias poderia ter tomado o lugar de qualquer um, mas Judas fez por merecer o epiteto de TRAIDOR.
Conclusão:
Se Judas fosse um “predestinado incondicional” ao lago de fogo, ele não deveria ter recebido as promessas de:
1º Ser um dos juízes que se assentaria em um dos 12 tronos (Lc 22.30).
2º Participar da mesa com Cristo e os demais servos de Deus na glória (Mt 26.29).
3º Ser entregue aos sinédrios por amor ao nome de Jesus (Mt 10.17).
4º Receber a segurança de falar às autoridades inspirado pelo Espírito Santo (Mt 10.20).
5º E não seria jamais considerado com um amigo íntimo de Jesus, pois aquele que é amigo do mundo ou do mal se constitui INIMIGO de Deus-Jesus (Tg 4.4).
Mas porque nenhuma dessas profecias se cumpriu sobre a pessoa do apóstolo Judas? Pelo simples fato de ele não ter escolhido permanecer ou perseverar como ministro do evangelho e obedecer à voz de Deus.  Outro caso de promessas não cumpridas é a de Moisés. Moisés que tinha a promessa de entrar na terra prometida com a sua congregação, todavia essa promessa nunca se cumpriu por justamente ele ter escolhido desobedecer a Deus ao ferir a rocha ao invés de falar á rocha como o Senhor ordenara (Nm 20:8-12; Dt 32.50-52) . Ou seja, o que se cumpriu em Judas foi nada mais e nada menos do que a exclusão do seu nome do livro da vida como colheita daquilo que ele plantou como bem frisou Deus ao dizer:
“Então, disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei eu do meu livro.” (Ex 32.33).
Isto é, qualquer que tiver seu nome escrito no livro da vida, pode tê-lo riscado, basta somente permanecer em desobediência (1Tm 4.1-2; 2Pe 2). A crença de que Judas nasceu condenado nunca passou pela mente dos cristãos primitivos. Esse ideia equivocada somente  passou a ter alguma credibilidade após o movimento estatal de reforma do século XVI e não antes como podemos ver na citação de Crisóstomo:
 “Judas, meu amado, foi no princípio um filho do reino, e ouviu o que lhe foi dito com os discípulos, ‘Vós sentareis sobre doze tronos; ’ mas depois se tornou um filho do inferno.”
Amém!
Nota do CACP: O artigo faz parte de nossa série polêmicas e vale muito a pena ser lido e refletido. O artigo em si não reflete a opinião de todos os membros do CACP.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

O que foi o espinho na carne de Paulo?



Resposta: Várias explicações sobre a natureza do espinho na carne de Paulo já foram dadas. Elas variam de tentação incessante, doença intratável ou crônica (tais como problemas no olho – Gálatas 4:15, malária, enxaquecas e epilepsia), a problemas de linguagem. Ninguém pode dizer por certo o que era, mas provavelmente era uma aflição física.
O que sabemos sobre esse espinho na carne é mencionado por Paulo em 2 Coríntios 12:7: “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte.” O seu propósito era para fazer com que Paulo permanecesse humilde. Qualquer pessoa que tivesse encontrado Jesus, falado com Ele ou sido enviado pessoalmente por Ele (Atos 9:2-8), ficaria, em seu estado natural, orgulhoso da sua experiência incrível. Acrescente a isso o fato de que Ele tinha sido guiado pelo Espírito Santo a escrever muito do Novo testamento, e é fácil ver como ele poderia ter se tornado orgulhoso e arrogante. Segundo, sabemos que a aflição veio de Satanás ou um de seus mensageiros. Assim como Deus permitiu que Satanás atormentasse a Jó (Jó 1:1-12), Deus permitiu que Satanás atormentasse Paulo para que Seu propósito e Sua vontade fossem executados.
É fácil compreender por que Paulo consideraria esse espinho como um atrapalho a um ministério mais efetivo e amplo (Gálatas 5:14-16) e por que ele pediu continuamente a Deus que o removesse de sua vida (2 Coríntios 12:8). No entanto, ele aprendeu dessa experiência a lição que influencia essa carta aos Coríntios: poder divino é melhor demonstrado quando no meio de fraqueza humana (2 Coríntios 4:7), para que apenas Deus receba o louvor e crédito (2 Coríntios 10:17). Ao invés de remover o problema, Deus o deu graça e força dentro da situação e através da mesma, e foi Ele quem declarou que sua graça é “suficiente”.
Fonte: http://gotquestions.org/Portugues/Paulo-espinho-carne.html

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Apologética: Uma necessidade para o evangelismo


Uma necessidade para o evangelismo
É indiscutível o fato da apologética se tornar cada vez mais necessária para a proclamação da Palavra de Deus. Apologética não consiste apenas em defender a fé cristã, mas também em anunciá-la ou servir como um instrumento indispensável para esta anunciação. A apologética sem o evangelismo é praticamente vã e o evangelismo sem a apologética se torna cada vez mais ineficaz.
A simples defesa do cristianismo é inútil quando não temos posteriormente a essencial proclamação da Palavra. A defesa é útil para a proclamação e deve estar intimamente relacionada a esta última. É preciso entender o quanto à apologética é útil, mas também o quanto ela pode se tornar inútil quando não utilizada de forma correta.
O apologista cristão Francis A. Schaeffer dizia que o homem moderno, quase em sua totalidade, está tomado pelo relativismo. O pensamento moderno mudou drasticamente o homem e para tanto se torna imprescindível que as formas de evangelismo também sofram intensas mutações. Uma destas mutações é aliar-se forçosamente a apologética.
O relativismo a que Schaeffer se referia pode ser verificado na prática. Estou evangelizando uma jovem de 21 anos, ela diz que todas as coisas etéreas que formam o homem, tais como moral e sentimentos, tem fundamentação orgânica.
Este pensamento conduz necessariamente ao relativismo, pois reduz a moral a um mero mecanismo orgânico (como um hormônio, por exemplo), e pensando assim existe uma relativização do certo e do errado. O homem é reduzido a um ser impessoal e suas atitudes não são essencialmente certas ou erradas, mas indicam sua necessidade de sobrevivência. Como na selva os animais lutam pelo seu espaço (e não precisam se culpar se matam um ao outro para conquistar seus objetivos), os homens também não precisam se culpar se passam por cima do seu próximo – isso é inclusive necessário para a manutenção da raça humana.
A minha pergunta é a seguinte: como é possível simplesmente evangelizar uma pessoa assim? O evangelismo puro e simples neste caso não surtirá muito efeito, pois a mente desta jovem está tomada pelo relativismo. Se ela não diferencia o certo e o errado, simplesmente dizer a ela que Cristo morreu em seu lugar se torna algo incompleto e ineficaz. Aqui nasce a apologética, enquanto uma ferramenta eficaz para o evangelismo.
No caso desta jovem, preciso prová-la que somos munidos sim de uma moral, que está longe de ser um mecanismo puramente orgânico, e para tanto necessito da apologética. Preciso defender racionalmente minha fé e mostrá-la como seu pensamento está baseado na irracionalidade. A partir daí será possível evangelizar, sem estar falando ao vento.
Insisto novamente que a apologética é importante, mas que deve ser seguida do evangelismo, ou tudo volta à estaca zero. A apologética deve fazer parte do processo evangelístico, e precisa contar para tanto com o essencial auxílio do Espírito Santo.
É imprescindível preparar a nova geração para evangelizar utilizando-se da apologética. A cada evolução da ciência, a cada nova filosofia, o homem se afasta mais da realidade da Palavra de Deus. A ciência vai se multiplicando e a amor se esfriando. Cabe a nós, como cristãos, defender e comunicar o Evangelho transformador nos adaptando as inevitáveis transformações do mundo.
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UM DEUS EM TRÊS PESSOAS
"Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mateus 28.19).
A Trindade é parte da doutrina de Deus por isso é também uma questão de vida ou morte. A Bíblia ensina que há só um Deus e que Deus é um só. Esse é o monoteísmo judaico-cristão revelado nas Escrituras. Mas, isso não contradiz a doutrina da Trindade? É sobre isso que trata o presente capítulo. A abordagem aqui é para apresentar um resumo histórico dessa doutrina, defini-la e mos­trar suas bases bíblicas.

Várias tentativas foram feitas nos quatro primeiros séculos da era Cristã para conciliar a divindade absoluta de Jesus com o monoteísmo, sem sacrificar a deidade do Pai. Nesses debates sur­giram os que defendiam o monoteísmo sacrificando a divindade absoluta do Filho. Os ebionitas criam em Jesus como o seu Messi­as, mas negavam sua deidade. Viviam o ritual da lei e os costumes judaicos, eram hostilizados tanto pelos judeus quanto pelos cris­tãos. Eram uma comunidade de judeus cristãos que floresceu no início do segundo século da Era Cristã. O nome vem do hebraico e significa "pobre".
Em virtude das discussões sobre a cristologia do Logos, na segunda metade do segundo século e na primeira do século se­guinte, surgiram os chamados monarquianistas, termo dado por Tertuliano aos opositores da doutrina do Logos, os alogoi, aque­les que rejeitavam o Evangelho de João. Os monarquianistas se dividiam em dois grupos: monarquianismo dinâmico, que nega­va a divindade de Jesus; e o monarquianismo modalista, que de­fendia a divindade absoluta de Jesus mas confundia as Pessoas. Para eles, o Pai, o Filho e o Espírito Santos seriam 3 máscaras de Deus. Em outras palavras, "não separava a substância, mas con­fundia as Pessoas".
O arianismo foi a maior controvérsia da história do Cristianis­mo. Fundado por Ário, entre 321-325, o qual pregava que o Filho era criatura (doutrina advogada ainda hoje pelas Testemunhas de Jeová) e esta inovação sacudiu o Cristianismo da época. Esta con­trovérsia nasceu em Alexandria, Egito, e terminou no primeiro concílio ecumênico da história, o Concílio de Nicéia, onde pela primeira vez se reuniram os bispos do Oriente e do Ocidente para discutir a causa arianista, na cidade de Nicéia, em 325 d.C. Nesse Concílio nasceu o Credo Niceno, que diz:
"Cremos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz, Vida de Vida, Filho Unigénito, Primogênito de toda a criação, por quem foram feitas todas as coisas; o qual foi feito carne para nossa salvação e viveu entre os homens, e sofreu, e ressuscitou ao terceiro dia, e subiu ao Pai e novamente virá em glória para julgar os vivos e os mortos. Cre­mos também em um só Espírito Santo."
O apolinarianismo veio depois da controvérsia ariana. Apolinário foi bispo de Laodicéia e morreu em 392. Uma vez de­finida a divindade do Logos e resolvida a questão ariana, a contro­vérsia girava agora em torno das duas naturezas de Cristo: a hu­mana e a divina. Apolinário foi diametralmente oposto ao arianismo, no entanto, combateu uma heresia desenvolvendo ou­tra tão grave quanto a que combatia: deu muita ênfase à divindade de Cristo e sacrificou a sua genuína humanidade.
       Apolinário dizia que a deidade de Cristo era a sua alma. Veja que sem alma não pode Jesus ser o verdadeiro homem: "Visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele parti­cipou das mesmas coisas... convinha que, em tudo, fosse seme­lhante aos irmãos" (Hb 2.14,17). Os nestorianos ensinavam que as duas naturezas de Cristo eram duas pessoas e que essa era tão íntima que poderia ser chamada uma só pessoa, como no caso de marido e mulher serem "uma só carne" (Gn 2.24).
       Assim como os modalistas confundiam as Pessoas da Trinda­de, o monofisismo confundia as duas naturezas de Cristo. "Monofisismo vem de duas palavras gregas monos, "único", e physis, "natureza". É a doutrina que defende uma única natureza de Cristo, só a divina ou divina e humana amalgamada, ensinada pelas igrejas cóptica, armênia, abissínia e pelos jacobitas, mesmo depois do século V. Essa doutrina foi condenada no Concílio da Calcedônia, em 451. Jacó Baradeus e seus seguidores rejeitaram a decisão desse Concílio. Por isso a igreja nacional da Síria é conhe­cida como Jacobita.
        Nós reconhecemos a ortodoxia definida no Concílio da Calcedônia porque tem base bíblica. Essa doutrina é chamada de Hipóstase. Esse vocábulo vem de duas palavras gregas hypo, "sob", e istathai, "ficar". Nas discussões teológicas sobre a doutrina da Trindade, na era da patrística, era usada como sinônimo de ousia, "essência, ser". Com relação a Jesus, significa a união das suas duas naturezas: divina e humana.
        Há ainda hoje alguns que ensinam que Jesus abdicou de sua deidade quando esteve na terra como homem, e que os poderes so­brenaturais eram oriundos do Espírito Santo. Como fica, portanto, a adoração de Jesus e a sua autoridade para perdoai" pecados? Veja que Jesus foi adorado diversas vezes e nunca recusou essa adoração: "Aproximaram-se os que estavam no barco e o adoraram, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus" (Mt 14.33). Há várias passa­gens bíblicas que comprovam essa verdade. Veja Mateus 2.2,11; 8.2; 9.18; 15.25; Marcos 15.19; João 9.38. Os discípulos adoraram ao Jesus Deus ou ao Jesus homem? O anjo, ao recusar ser adorado, disse a João: "Adora a Deus" (Ap 19.10; 22.9,10). Jesus disse ao paralítico: "Perdoados te são os teus pecados" (Mt 9.2). O homem pode perdoar pecados? Veja a passagem paralela em Marcos 2.7.
DEFINIÇÃO
       
As Escrituras aplicam o nome "Deus" ao Pai sozinho "e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai" (Fp 2.11). O nome "Deus", Theos, no Novo Testamento grego, quan­do vem acompanhado do artigo e sem outra qualificação, refere-se sem­pre ao Pai. O nome "Deus" parece também para designar o Filho "... e o Verbo era Deus" (Jo 1.1) e ao Espírito Santo "... mentisses ao Espírito Santo... Não mentistes aos homens, mas a Deus" (At 5.3,4). Aparece, na maioria das vezes, com referência à Trindade "Ouve, Israel, o SE­NHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4).
A mesma Bíblia que ensina haver um só Deus e que Deus é um só, ensina também que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. Isso não é triteísmo, mas a Santíssima Trindade. Em outras palavras, cada uma dessas Pessoas é Deus pleno e absoluto e não parte da divindade, no entanto, não se trata de triteísmo, pois existe um só Deus verdadeiro e Deus é um só. Não são três Deuses, mas três Pessoas em uma só Diivndade. Isso se chama Trindade.
        O Novo Testamento não contradiz o Velho, mas torna explícito o que dantes estava implícito. A unidade de Deus não é absoluta, mas composta, de modo que o Velho Testamento revela a unidade na Trindade, ao passo que o Novo revela a Trindade na unidade. A doutrina da Trindade não neutraliza, nem contradiz a doutrina da Unicidade e nem a doutrina da Unicidade anula a Trindade.
        A Bíblia ensina que a Trindade é a união de três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em uma só Divindade, sendo iguais, eter­nas, da mesma substância, embora distintas, sendo Deus cada uma dessas Pessoas. O fundamento bíblico dessa declaração está em Mateus 28.19; 1 Coríntios 12.4-6; 2 Coríntios 13.13; Efésios 4.4-6.
A BASE BÍBLICA DA TRINDADE
       
Desde o Velho Testamento encontramos que Jeová se distingue de Jeová: "Então, o SENHOR fez chover enxofre e fogo, do SENHOR desde os céus, sobre Sodoma e Gomorra" (Gn 19.24). O Re­dentor, que é divino, é Jeová e é distinto dEle: "E virá o Redentor a Sião e aos que se desviarem da transgressão em Jacó, diz o SENHOR" (Is 59.20). Da mesma forma o Espírito Santo é Jeová e se distingue de Jeová: "Chegai-vos a mim e ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que aqui se fez, eu estava ali; e, agora, o Senhor JEOVÁ me enviou o seu Espírito" (Is 48.16). O princípio trinitariano já estava presente no Antigo Testamento.
         A pluralidade de Pessoas na divindade é também conhecida nas Escrituras do Antigo Testamento: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança..." (Gn 1.26). As três Pessoas da Trindade estão presentes aqui, na criação do ho­mem. Isso se harmoniza com todo o contexto bíblico, pois o Filho criou todas as coisas e também o homem: "Porque nele foram cria­das todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele" (Cl 1.16). E da mesma forma o Espírito Santo: "O Espírito de Deus me fez" (Jó 33.4).
        "Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal..." (Gn 3.22). Ora, por que um de nós, visto que Deus é um? Isso porque Ele é Deus que subsiste eterna­mente em três Pessoas. Da mesma forma encontramos em Gênesis 11.7: "Eia, desçamos, e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro". Novamente o diálogo entre as três Pessoas da Trindade.
        "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR" (Dt 6.4). O texto sagrado diz que Jeová é único. A palavra "único" no original hebraico é echad, que é uma unidade composta. Se essa unidade fosse absoluta, a palavra correta aqui seria yachid, a mesma usada em Gênesis 22.2: "Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque...". Acontece que echad é uma unidade com­posta, é a Trindade. Como pode marido e mulher serem "uma só carne"? (Gn 2.24). A palavra "uma", nessa passagem, é echad, a mesma usada em Deuteronômio 6.4.
        Outro ponto igualmente importante é a visão do profeta Isaías, através da qual ele viu o Senhor (Is 6.1), mas esse mesmo Jeová diz: "A quem enviarei e quem há de ir por nós?" (Is 6.8). Nova­mente a pluralidade na unidade divina está presente. Outro ponto que não devemos perder de vista é que o profeta inspirado diz que a terra está cheia da glória de Jeová dos Exércitos, e, no entanto, o apóstolo João diz que esse Jeová é Jesus: "Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, afim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure. Isaías disse isso quando viu a sua glória e falou dele" (Jo 12.40,41).
         Em Isaías 6.8-10 é Jeová quem fala; no entanto, o apóstolo Paulo afirma que é o Espírito Santo: "Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este povo e dize: De ouvido, ouvireis e de maneira nenhuma entendereis..." (At 28.25-27). Isso significa que o Espírito Santo é Jeová. Assim, a visão de Isaías 6 revela a Trindade.
        "Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo" (Mt 28.19). Um só nome comum às três Pessoas perfeitamente ditintas pelos respectivos artigos definidos e pela repetição da conjunção "e". Em outras palavras, o batismo é realizado na base da triunidade de Deus.
         "Ora, há diversidades de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidades de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo versidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos" (1 Co 12.4-6). A ordem inversa dessas três Pessoas se justi­fica porque o apóstolo está tratando dos dons espirituais, além de mostrar que essas três Pessoas são iguais e co-eternas. Convém sa­lientar que o nome "Deus", no versículo 6, não está indicando, a Trindade em si, sabemos que é uma referência ao Deus-Pai, pois está acompanhado do artigo definido no texto grego, além de vir junto com o Filho e o Espírito Santo.
         "A graça de nosso senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos. Amém" (2 Co 13.13). Essa passagem é conhecida universalmente como a bên­ção apostólica. É a única vez que a impetração de uma bênção aparece explicitamente no nome da Trindade. Algo similar acon­tece com a bênção sacerdotal, onde o nome Jeová aparece três vezes, em Números 6.24-26, a Trindade de forma implícita.
         "Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chama­dos em uma só esperança da vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e em todos" (Ef 4.4-6). As três Pessoas da Trindade estão presentes. O texto diz que existe um só Pai, um Filho e um só Espírito Santo, ou seja: Pai é Pai, Filho é Filho e Espírito Santo é Espírito Santo. É, portanto, erro doutrinário confundir as Pessoas da Trindade.
A DEIDADE DO FILHO E DO ESPÍRITO SANTO
        
A Bíblia diz textualmente em vários lugares que o Senhor Jesus é Deus: "...e o Verbo era Deus" (Jo 1.1), "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude na divindade" (Cl 2.9). Veja ainda Tito 2.13; 2 Pedro 1.1 e 1 João 5.20. O mesmo pode ser dito do Espírito Santo: "Ananias, por que encheu Satanás o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo... Não mentisses aos homens, mas a Deus" (At 5.3,4). Compare ainda Atos 7.51 com o salmo 78.18,19. A Bíblia diz que só um é chamado Deus "Eu sou o pri­meiro e eu sou o último, e fora de mim não há Deus... Há outro Deus além de mim? Não!" (Is 44.6, 8). Veja ainda Deuteronômio 4.35, 39; Is 45.5, 21; 46.9.
        O Filho e o Espírito Santo são chamados, com todas as letras, de Jeová ou SENHOR, na Bíblia: "Naquele dia, o SENHOR amparará os habitantes de Jerusalém... E sobre a casa de Davi e sobre os habitan­tes de Jerusalém derramarei o Espírito de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem transpassaram..." (Zc 12.8-10). Quem foi ao céu transpassar a Jeová? Ninguém, absolutamente. A profecia fala daquele que foi traspassado na cruz. O Novo Testamento diz: "Um dos solda­dos lhes furou o lado com uma lança , e logo saiu sangue e água... E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram" (Jo 19.34, 37). Há outras passagens bíblicas que ensinam essa verdade, como Jeremias 23.5,6, compare ainda Mateus 3.3 com Isaías 40.3.
        Isso também se diz do Espírito Santo. A Bíblia diz que o Espíri­to de Jeová se apoderou de Sansão quando os filisteus o foram pren­der: "... o Espírito do SENHOR possantemente se apossou dele" (Jz 15.14). Quando Sansão revelou o segredo de sua força sobrenatural, esse mesmo Espírito do SENHOR, que se apoderara dele, a Bíblia diz que era o próprio Jeová: "Porque não sabia que o SENHOR se tinha retirado dele" (Jz 16.2). Compare ainda Hebreus 3.7-9 com Êxodo 17.6,7; Atos 7.51 com 2 Reis 17.14. A Bíblia, entretanto, diz que somente Jeová é Deus: "Só o SENHOR é Deus em cima no céu e embaixo na terra; nenhum outro há" (Dt 4.39).
        Igualmente o Filho e o Espírito Santo são chamados de Deus de Israel: "E disse-me o SENHOR: Esta porta estará fechada, não se abrirá; ninguém entrará por ela, porque o SENHOR, Deus de Israel,
é a "Porta Oriental" (Ne 3.29) de Jerusalém. Será que Jeová entrou por essa Portã de maneira literal? O Senhor Jesus entrou por ela montado num jumento, Ele caminhou no sentido do monte das Oli­veiras ao centro da cidade. Então, segundo essa profecia, o Senhor Jesus é o Deus de Israel. Essa é atualmente a porta Dourada, a única porta que dá acesso direto ao pátio do templo. Localiza-se no lado oriental de Jerusalém, foi lacrada no ano de 1542 por ordem do sultão Suleiman II, o Magnífico, e permanece fechada até ao dia de hoje.
        A Bíblia também chama o Espírito Santo de o Deus de Israel: "O Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua palavra esteve na minha boca. Disse o Deus de Israel..." (2 Sm 23.2,3). Quem falou por Davi foi o Espírito do SENHOR ou o Deus de Israel? O texto sagrado mostra que o Espírito Santo é o mesmo Deus Jeová e que é o mesmo Deus de Israel.
        A Bíblia diz expressamente, com todas as letras, que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus e que não existem três Deuses, mas um só Deus. Da mesma forma a Bíblia revela todos os atributos da divindade em cada uma das Pessoas da Trin­dade, o que fundamenta ainda mais essa doutrina. Todos os atribu­tos absolutos, relativos e morais da divindade já estudados estão presentes nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Não é possível enumerá-los todos aqui, estamos apresentando alguns para representar cada grupo desses atributos.
         A Bíblia diz que o Senhor Jesus é onipotente: "É-me dado todo o poder no céu e na terra" (Mt 28.18). Ele já tinha esse poder antes de vir ao mundo, basta uma lida em Filipenses 2.6-11 para se confirmar essa verdade. Veja ainda Apocalipse 1.8; 3.7. Isso tam­bém se diz do Espírito Santo: "não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos" (Zc 4.6), e ainda: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus". A virtude ou o poder do Altíssimo é o mesmo poder do Espírito Santo. Veja ainda Ro­manos 15.13, 19.
         A onisciência está também presente nas Pessoas do Filho e do Espírito Santo. A onisciência é outro atributo que só Deus possui e, no entanto, Jesus revelou esta onisciência durante o seu ministério. Em João 1.47,48, por exemplo, quando disse que viu Natanael debaixo da figueira. Sabia que no mar havia um peixe com uma moeda e que Pedro ao lançar o anzol o pes­caria e com o dinheiro pagaria o imposto, tanto por ele como por Cristo (Mt 17.27). Em João 2.24,25 está escrito que não havia necessidade de ninguém falar algo sobre o que há no in­terior do homem, porque Jesus já sabe de tudo. A Bíblia diz que só Deus conhece o coração dos homens (1 Rs 8.39), então Jesus é não só onisciente, mas também é Deus. Ele sabia que a mulher samaritana já havia possuído cinco maridos e que o atual não era o seu marido (João 4.17,18). Encontramos em João 16.30; 21.17, que Jesus sabe tudo, e Colossenses 2.2,3 nos diz que em Cristo "estão escondidos todos os tesouros da sabedo­ria e da ciência". Não há nada no universo que Jesus não saiba, tudo porque Ele é onisciente e é Deus.
        O mesmo acontece com o Espírito Santo. Foi o Espírito San­to que revelou a Simeão que ele não morreria sem ver o Cristo (Lc 2.26). A Bíblia diz que o Espírito Santo conhece todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus: "Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda profundezas de Deus. Por que qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" (1 Co 2.10,11). Veja ainda Ezequiel 11.5; Romanos 8.26,27; 1 Pedro 1.11.
        O Filho e o Espírito Santo são também onipresentes. Jesus é ilimita­do pelo tempo e pelo espaço. Ele disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18.20), e mais: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos sécu­los. Amém" (Mt 28.20). Essas duas passagens mostram que Jesus está presente em qualquer parte do globo terrestre porque ele é onipresente. A Bíblia diz que o Espírito Santo está em toda a parte: "Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? (SI 139.7).
        As Escrituras Sagradas ensinam que o Filho e o Espírito Santo são eternos. Apré-existência de Cristo é eterna: "...e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Mq 5.2). Isto revela que o Filho já existia antes dos tempos dos séculos, antes de todas as coisas. O profeta Isaías anuncia o aparecimento do Messias dando-lhe cinco nomes a saber: "...e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da eternidade, Príncipe da Paz" (Is 9.6).
        Há outra passagem que corrobora esta grande verdade: "Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje e eternamente" (Hb 13.8). Essa é uma das passagens bíblicas que provam que Jesus não pode ser cri­atura. Como pode ser o Filho "o mesmo ontem", se realmente hou­ve um tempo na história em que ele não existia? Se o Filho passou a existir a partir do dia em que foi criado, como pode ser ele o mesmo ontem? Se antes dessa suposta criação ele não existia, podia ser ele o mesmo antes de existir? De maneira nenhuma. Em qualquer tem­po da eternidade passada, "os tempos antes dos séculos" (Tt 1.2), no passado remotíssimo que a mente humana não pode alcançar, ele "era o Verbo", era o mesmo, o mesmo de hoje e de sempre, pois ele é imutável. A Bíblia chama o Espírito Santo de "Espírito eterno" (Hb 9.14;, e estava presente da criação (SI 104.30).
         O atributo da santidade está também presente no Filho e no Espírito Santo, e da mesma forma o atributo da justiça. Jesus é santo e justo: "Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida" (At 3.14); "Ministrando o evan­gelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santi­ficada pelo Espirito Santo" (Rm 15.16). Veja 1 Coríntios 6.11.
         O atributo da bondade aparece no Filho: "Além disso, eu, Paulo, vos rogo -via mar1;, idao e benignidade de Cristo" (2 Co 10.1), e no Espírto Santo: "Ensina-me a fazer tua vontade, pois és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terra plana" (SI 143.10). Veja ainda Neemias 9.20
        A Bíblia diz que o Verbo se manifestou "cheio de graça e de verdade" (Jo 1.14). Ele mesmo é a verdade: "Disse-lhe Jesus: Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida" (Jo 14.6). Jesus; pois, é a Verdade e a Vida. Da mesma maneira o Espírito Santo: "O Espírito da verdade, que o mundo não pode receber" (Jo 14.17), "Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, testificará de mim" (Jo 15.26). A Bíblia diz que o "Espírito é a verdade" (1 Jo 5.6). O Filho é a Vida, da mesma forma o é o Espírito Santo "Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2).
O CREDO DE ATANÁSIO
       
A controvérsia girava em torno da eternidade de Cristo. Ata­násio (296 - 373) foi o inimigo implacável da doutrina de Ário, dizia que o Filho é eterno e da mesma substância do Pai, ou seja, homoousios. Ário, por outro lado, dizia que o Filho era criatura, e que não era da mesma substância do Pai, ou seja homoiousios, para dizer que o Filho era apenas de natureza similar ou igual, mas não a mesma natureza do Pai. Apenas essa letra "i" fazia grande diferença. A palavra grega homoousios significa "mesma essên­cia" ou a "mesma substância". Era isso que Atanásio defendia, como encontramos no Credo Niceno citado anteriormente: "Cre­mos em um só Deus, Pai Onipotente, Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Em um só Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, Deus de Deus, Luz de Luz, Vida de Vida". Veja que, quanto ao Espírito Santo, o Credo Niceno apenas diz: "Cremos também em um só Espírito Santo."
         Depois do Concílio de Nicéia, em 325, muitos documentos circulavam nas igrejas sobre o assunto. O Credo que hoje chama­mos de Atanásio, na verdade expressa o seu pensamento e tudo o que ele defendeu durante toda a sua vida, mas parece que o texto não é de sua autoria. Esse Credo não foi mencionado no Concílio de Éfeso, 431; nem no da Calcedônia, 451; e nem no de Constantinopla, 381.
         Durante a Idade Média se dizia que Atanásio escreveu esse Credo quando esteve no exílio, em Roma, e ofereceu ao bispo de Roma, Júlio I, para servir como confissão de fé. Desde o séc. IX que se atribui o Credo a Atanásio. Esse Credo traz o seu nome porque ele defendeu tenazmente essa ortodoxia cristã, mas seu autor é desconhecido. O Credo foi mencionado pela primeira vez em um sínodo, realizado entre 659-670. Serve como teste da orto­doxia desde o século VII para os principais ramos do Cristianis­mo: Catolicismo Romano, Catolicismo Ortodoxo e Protestantis­mo. O Credo se constitui de 44 artigos:



... (3) A fé universal é esta: que adoremos um Deus em trindade, e trindade em unidade; (4) Não confun­dimos as Pessoas, nem separamos a substância. (5) Pois existe uma única Pessoa do Pai, outra do Filho, e outra do Espírito Santo. (6) Mas a deidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é toda uma só: glória é igual e a majestade é coeterna. (7) Tal como é o Pai, tal é o Filho e tal é o Espírito Santo. (8) O Pai é incriado, o Filho incriado, e o Espírito Santo incriado. (9) O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Es­pírito Santo é imensurável. (10) O Pai é eterno, o Fi­lho é eterno, o Espírito Santo é eterno. (11) E, no en­tanto, não são três eternos, mas há apenas um eterno. (12)Da mesma forma não há três incriados, nem três imensuráveis, mas um só incriado e um imensurável. (13)Assim também o Pai é onipotente, o Filho é oni­potente e o Espírito Santo é onipotente. (14) No en­tanto, não há três onipotentes, mas sim, um onipoten­te. (15) Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espí­rito Santo é Deus. (16) No entanto, não há três Deu­ses, mas um Deus. (17) Assim o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, e o Espírito Santo é Senhor. (18) Todavia não há três Senhores, mas um Senhor. (19) Assim como a veracidade cristã nos obriga a confessar cada Pes­soa individualmente como sendo Deus e Senhor; (20) Assim, também ficamos privados de dizer que haja três Deuses ou Senhores. (21) O Pai não foi feito de coisa alguma, nem criado, nem gerado; (22) o Filho proce­de do Pai somente, não foi feito, nem criado, mas ge­rado. (23) O Espírito Santo procede do Pai e do Fi­lho, não foi feito, nem criado, nem gerado, mas proce­dente. (24) Há, portanto, um Pai, e não três Pais; um Filho, e não três Filhos; um Espírito Santo, não três Espíritos Santos. (25) E nessa trindade não existe primeiro nem último; maior nem menor. (26) Mas as três Pessoas são coeternas, são iguais entre si mesmas; (27) De sorte que por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade devem ser adoradas.

         Outro ponto importante é que no artigo de fé 23 diz "O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procedente". O patriarca de Constantinopla dizia que esse artigo não é autêntico. Dizem que afilioque, termo latim que significa "do Filho", não cons­tava do texto original. A Igreja Ortodoxa ainda hoje rejeita a ideia de que o Espírito Santo seja enviado pelo Pai e pelo Fi­lho, mas apenas pelo Pai.
         Veja que Jesus disse: "Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, testificará de mim" (Jo 15.26). Mas eles acham que a expressão "que eu da parte do Pai vos hei de enviar" não está claro suficiente para constar no Credo. Essa foi uma das razões para o cisma da Igreja, quando foi dividida em Oriente e Ocidente, Roma e Constantinopla, cato­licismo romano e catolicismo ortodoxo, em 1054. Com isso o patriarca de Constantinopla considerou espúrio o cargo do bis­po de Roma e vice-versa.
O QUE SIGNIFICA O TERMO "PESSOA" NA TRINDADE?
        As Escrituras revelam o Deus verdadeiro como um ser es­piritual e pessoal, conforme João 4.24; 13.8. No que tange à
Trindade, tanto as Testemunhas de Jeová como os modalistas ou sabelianistas e os unicistas modernos apresentam conceitos er­rôneos sobre a palavra "pessoa" na Divindade. Racionalmente parece difícil alguém admitir três Pessoas Divinas, sendo Deus absoluto em toda a sua plenitude, e não parte da Divindade e, no entanto afirmar que isso não é triteísmo. Talvez o problema seja pelo fato de não haver palavra mais adequada para o que cha­mamos de "pessoas" da Divindade.
          A palavra "pessoa" vem do grego persona, "máscara" usada para designar a máscara que o ator usava para represen­tar um personagem no teatro grego. Aplicando essa palavra para o que chamamos de "Pessoas" na Trindade, poderia induzir alguém ao sabelianismo ou modalismo. Por essa razão os Pais da Igreja preferiam chamar essas "Pessoas" de homoousios, "um ser", ou hipo s ta si s. Hipóstase vem de duas palavras gre­gas hypo "sob" e istathai "ficar". Nas discussões teológicas sobre a doutrina da Trindade, na era da patrística, era usada como sinônimo de ousia "essência, ser". O reformador protes­tante, Calvino, preferia chamar de Subsistentia.
          O livro Fundamentos da Verdade, publicado pelo ICI (Instituto por Corresponência Internacional), Campinas, SP, prefere chamar essas Pessoas de auto-distinções. O termo "pessoa", nesse caso, não deve ser entendido com o uso mo­derno que usamos para designar um ser individual em sua totalidade. "Quando falamos de Deus como Pessoa, estamos na realidade usando o termo moderno para expressar a natu­reza de uma substância; mas, quando falamos de 'pessoas'no sentido trinitariano, estamos nos referindo à Hypostases ou as distinções dentro daquela substância" (Orton H. Viley e Paul T. Cubertson).
Por isso é falsa a asserção de que a Trindade é doutrina de homens. Um número incontável de cris­tãos já está na glória sem sequer ouvir a palavra "trindade". Nin­guém precisa entender a Trindade para ser salvo. Deus é para ser crido e não entendido. O grande problema das seitas é querer en­tender Deus. A salvação é pela fé no verdadeiro Jesus dos evange­lhos. Não existe salvação sem Jesus. 

Extraído do Livro Manual   de  Apologética  Ezequias Soares.

Presciência de Deus, predestinação e livre-arbítrio humano

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