sábado, 31 de maio de 2014

At 13.48 – ordenado ou predestinado?


E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna (At 13.48).
Esta passagem é muito usada pelos calvinistas para tentar provar a doutrina da eleição incondicional. Praticamente todos os calvinistas a usam. Berkhof a cita em sua Teologia Sistemática, uma vez em favor da eleição incondicional, outra da vocação eficaz.[1]  Pink nos conta que “todas as artimanhas da engenhosidade humana têm sido empregadas para obscurecer o significado deste versículo e para explicar de outro modo o sentido óbvio de suas palavras; mas todas as tentativas têm sido em vão; de fato, nada pode conciliar esta e outras passagens semelhantes com a mente do homem natural.”[2] John Gill sustenta que “a fé não é a causa, ou a condição do decreto da vida eterna, mas um meio fixado nele, e é fruto e efeito dele, e o que certamente segue dele.”[3] Boettner parece concordar com Gill quando diz que “basear a eleição na fé prevista é dizer que somos ordenados à vida eterna porque cremos, ao passo que as Escrituras declaram o contrário.”[4] O próprio Calvino, comentando At 13.48, diz: “Esta passagem ensina que a fé depende da eleição de Deus.”[5]Citar outros calvinistas não acrescentaria em nada ao que já foi dito. J. O. Buswell é um dos poucos calvinistas que não compartilha dessa opinião.[6]
A disputa entre calvinistas e arminianos gira em torno da palavra “ordenados” (gr. tetagmenoi, pretérito perfeito passivo de tasso), um termo que significa ‘ordenar,’ ‘colocar em uma certa posição ou ordem,’ ‘dispor.’ O comentarista Adam Clarke diz que a palavra “não inclui nenhum idéia de preordenação ou predestinação de qualquer espécie.”[7] É a mesma opinião de Wesley, quando diz: “É observável, a palavra original não é nenhuma vez usada na Escritura para expressar predestinação eterna de qualquer sorte.” [8] Essas observações de Clarke e Wesley quanto ao significado da palavra são importantes, mas elas não servem para colocar um ponto final na questão. É digno de nota que a Versão Siríaca traz, em At 13.48, a expressão “foram destinados” e a Vulgata, “tantos quantos foram preordenados à vida eterna (quotquot erant praeordinati ad vitam aeternam).”
A palavra tasso é usada 8 vezes na Bíblia, com os sentidos de:
- comandar ou designar:
Partiram, pois, os onze discípulos para a Galiléia, para o monte onde Jesus lhes designara (Mt 28.16).
Então disse eu: Senhor que farei? E o Senhor me disse: Levanta-te, e vai a Damasco, onde se te dirá tudo o que te é ordenado fazer (At 22.10).
Havendo-lhe eles marcado um dia, muitos foram ter com ele à sua morada, aos quais desde a manhã até a noite explicava com bom testemunho o reino de Deus e procurava persuadí-los acerca de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas (At 28.23).
- instituir, constituir ou apontar:
Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus (Rm 13.1).
- determinar, tomar conselho, resolver:
Tendo Paulo e Barnabé contenda e não pequena discussão com eles, os irmãos resolveram que Paulo e Barnabé e mais alguns dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, por causa desta questão (At 15.2).
- sujeitar-se à autoridade de alguém:
Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz (Lc 7.8).
- dedicar-se a:
Agora vos rogo, irmãos – pois sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaía, e que se tem dedicado ao ministério dos santos (1Co 16.15).
Como pode ser visto, nenhum desses significados carrega a idéia de preordenação ou de algum decreto divino feito na eternidade. A palavra tasso é de origem militar, usada no sentido de ‘dispor soldados em ordem de acordo com a vontade de um oficial.’
A interpretação calvinista não é absolutamente necessária nesta passagem por algumas razões:
1)    a palavra “ordenados” também pode significar “dispostos.” Assim, o verso ficaria “todos quantos estavam dispostos à vida eterna creram.” Por quem dispostos, o verso não diz. Dean Alford concorda com esta tradução. E acrescenta: “Encontrar neste texto uma afirmação de preordenação à vida é forçar tanto a palavra quanto o contexto a um significado que eles não contêm.”[9]
2)    “A livre auto-determinação da vontade humana é tão pouco negada quanto afirmada nesta passagem; umdecretum absolutum não está de forma nenhuma envolvido em tetagmenoi.”[10] O contexto não parece apontar para uma fé como conseqüência da eleição divina, mas de uma livre-escolha pessoal, obviamente guiada por Deus. Aqueles que estavam ordenados à vida eterna, antes de crerem, estavam desejosos de ouvir a Palavra de Deus, como alguns versos antecedentes mostram:
Quando iam saindo, rogavam que estas palavras lhes fossem repetidas no sábado seguinte… No sábado seguinte reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus (At 13.42, 44).
Portanto, mesmo se interpretar tetagmenoi como um arranjo prévio por Deus, At 13.48 não traria qualquer problema, visto que as pessoas ordenadas responderam positivamente à graça de Deus antes de obterem fé salvífica. Deus, em Sua onisciência, sabendo de antemão a disposição dos seus corações, a receptividade de cada um à Palavra, e que, se sobre esses exercesse Sua graça, eles iriam crer, poderia tê-los ordenados para a vida eterna e lhes concedido fé.
3)    Alguns comentaristas defendem uma outra ordem para o verso. Também seria correto, segundo Leander S. Keyser: “E creram, todos quantos estavam dispostos, determinados, ou firmes para a vida eterna.”[11] Isso é confirmado  por W. E. Vine em seu Expository Dictionary of New Testament Words, onde se pode ler do significado de “ordenados”: “É dito daqueles que, tendo crido no Evangelho, ‘foram ordenados à vida eterna,’ At 13.48.”[12]
Seja qual for a ordem das frases, “não há nenhuma evidência de que Lucas tinha em mente um absolutum decretum de salvação pessoal.”[13]
4)    Antes da vinda de Cristo certamente havia algumas pessoas já salvas, que haviam crido na mensagem redentora dada por Deus no Velho Testamento, e que mantinham uma relação pessoal com Deus. Antes da conversão de Cornélio, por exemplo, a Bíblia o mostra como um “homem justo e temente a Deus” (At 10.22). A ele apenas ainda não havia sido apresentado o Evangelho de Cristo. Essa situação foi única na história da igreja e obviamente não existe mais. Portanto, Lucas poderia estar falando, em At 13.48, daqueles que, já no caminho da salvação, apenas creram na mensagem de Cristo. Não que todos que ouviram o discurso de Paulo naquele momento já eram salvos, mas a referência poderia ser a esses. Essa interpretação é defendida por F. Leroy Forlines.[14] Esta posição é apoiada pelo fato de que os crentes do v. 48 muito provavelmente faziam parte dos “judeus e prosélitos devotos [ou religiosos]”, a quem Paulo e Barnabé exortaram para “perseverarem na graça de Deus” (13.43) um sábado antes.
5)    Crisóstomo (347-407), considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental, indica que a palavra ‘ordenados’ assume o sentido de ‘reservados para Deus.’ Da obra Saint Chrysostom: Homilies on the Acts of the Apostles and the Epistle to the Romans, de Philip Schaff, a seguinte nota de George B. Stevens pode ser vista: “A expressão ‘creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna’ tem sido tanto minimizada quanto exagerada. Crisóstomo aponta o caminho para sua correta interpretação ao dizer ‘reservados para Deus’ e adiciona em seguida ‘não com referência à necessidade.’ O escritor não está de forma alguma buscando definir uma doutrina do plano divino em seu efeito sobre a auto-determinação humana, mas apontando uma seqüência histórica. Aqueles que se tornaram crentes verdadeiramente estavam dentro do plano de Deus. A passagem não diz nada da relação do ordenamento de Deus com a escolha do crente. É um exemplo do tipo de pensamento paulino que baseia a salvação no eterno propósito de Deus. Quem quer que seja salvo, de fato, foi salvo pelo propósito de Deus. Se realmente eles são salvos sob a condição da fé e não através da coação de um decretum absolutum, então é certo que sua salvação, como prevista no propósito de Deus, não exclui sua auto-determinação e aceitação pessoal.”[15]
6)    “Na verdade, alguns entendem que o verbo está na voz média, e não na passiva, e traduzem o texto assim: ‘e tantos quantos destinaram-se a si mesmos [mediante sua reação positiva aos apelos do Espírito] para a vida eterna, creram’.” (David J. Williams, Novo Comentário Bíblico do Livro de Atos)
7)    Lucas não diz preordenados mas ordenados.
Alford, citando Wordsworth, nos revela que a construção da idéia de uma preordenação à vida eterna pelos calvinistas em At 13.48 vem da imprópria tradução da Vulgata, uma versão “com inúmeras falhas, imprecisões, inconsistências, e colocações arbitrárias nos detalhes.”[16] Ele diz: “O Dr. Wordsworth bem observa que seria interessante perguntar, Que influência estas traduções na Versão Vulgata (‘preordenados’) teve nas mentes de alguns, como Santo Agostinho e seus seguidores na igreja ocidental, ao tratar as grandes questões do livre-arbítrio, eleição, reprovação, e perseverança final? O que mais foi resultado dessa influência nas mentes de alguns escritores das Igrejas Reformadas, que rejeitaram a autoridade de Roma, que quase canonizou essa versão; e todavia nestes dois importantes textos (At 2.47; 13.48) foram influenciados por ela, se distanciando do sentido do original? A tendência dos pais orientais, que liam o grego original, foi em uma direção diferente daquela da escola ocidental; e o Calvinismo não pode receber nenhum apoio destes dois textos, tanto quando colocados diante das palavras originais da inspiração como quando esclarecidos pela Igreja primitiva.”[17]
Conforme nos informa Gleason L. Archer, Jr: “Em 382, Jerônimo foi comissionado pelo Papa Damaso para revisar a Itala em confronto com a Septuaginta Grega (embora que Jerônimo já conhecesse o hebraico, Damaso não tinha pretendido originalmente nada tão radical como seria uma nova tradução latina do hebraico original).”[18] A Itala foi uma versão latina, traduzida a partir da Septuaginta. A Vulgata foi uma tentativa de trazer a Itala mais próxima da Septuaginta. Como pode ser notado, a Vulgata não foi uma tradução direta do original. É interessante notar que a Vulgata surgiu na época em que Agostinho vivia.  Mais interessante ainda é que esta versão carregava forte influência dos ensinos de Agostinho, principalmente no que se referia à predestinação e à negação do livre-arbítrio. Fluente em latim, Calvino também usou muito a Vulgata. Isto porque a Vulgata foi praticamente, por mil anos, a única Bíblia conhecida e lida na Europa Ocidental.
Após sugerir estas outras interpretações, os calvinistas muito provavelmente podem estar dizendo, como Spurgeon: “Tentativas têm sido feitas para comprovar que essas palavras não ensinam a predestinação. Tais tentativas, porém, violentam o claro sentido da linguagem, de tal maneira que nem merecem que se gaste tempo em lhes dar resposta.”[19] Mas a interpretação dos calvinistas cria um sério problema para eles, como demonstrarei a seguir.
Boettner diz de At 13.48 que “todos quantos estavam ordenados para a vida eterna (e somente eles) creram.”[20] O acréscimo “e somente eles” parte de uma conclusão inevitável. Se tomada a interpretação calvinista, então “todos quantos,” ou seja, todos os que estavam ordenados para a vida eterna, daqueles que estavam presentes dentre “quase toda a cidade” (At 13.44), creram. Isso significa dizer que os demais, que não creram naquele exato momento, não estavam ordenados à vida eterna, ou seja, eram reprovados e estavam predestinados à perdição eterna. Só que dificilmente algum calvinista acredita nisso. Se continuam defendendo a sua interpretação é porque, muito provavelmente, ainda não se deram conta dessa implicação.
At 13.48, portanto, não é de fácil interpretação. Mas de forma alguma esta passagem evidencia a fé como conseqüência da eleição incondicional, como o Calvinismo propõe. A interpretação dos calvinistas é possível, mas muito improvável, dadas as suas implicações indesejáveis.
[1] Louis Berkhof, Teologia Sistemática, pg. 116, 471.
[2] Arthur W. Pink, Deus é Soberano, p. 53.
[3] John Gill, Comentários sobre At 13.48, John Gill’s Exposition of the Entire Bible.
[4] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination.
[5] John Calvin, Comentários sobre At 13.48, Calvin’s Commentaries.
[6] J. O. Buswell, A Systematic Theology of the Christian Religion, v. 2, p. 152-3.
[7] Adam Clarke, Comentários sobre At 13.48, Adam Clarke’s Commentary on the Bible.
[8] John Wesley, Comentários sobre At 13.48, John Wesley’s Explanatory Notes.
[9] Dean Alford, New Testament for English Readers, Vol. I, Parte II, p. 745).
[10] Lange, Commentary on the Holy Scriptures: Acts, p. 258.
[11] Leander S. Keyser, Election and Conversion, pp. 129-130.
[12] W. E. Vine, Expository Dictionary of New Testament Words, Vol. I, p. 68.
[13] A. T. Robertson, Word Pictures in the New Testament, The Acts, p. 200).
[14] F. Leroy Forlines, The Quest For Truth, p. 388-390.
[15] George B. Stevens, citado em Philip Schaff, Saint Chrysostom: Homilies on the Acts of the Apostles and the Epistle to the Romans.
[16] Philip Schaff, History of the Christian Church.
[17] Dean Alford, The New Testament in the Original Greek, with Introduction and Notes, por Chr. Wordsworth, “The Acts,” p. 108).
[18] Gleason L. Archer, Jr, Merece Confiança o Antigo Testamento?, p. 50.
[19] Charles Spurgeon, citado em Arthur W. Pink, Deus é Soberano.
[20] Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of Predestination.
Nota do CACP: O texto abaixo é escrito por um autor arminiano. Como já informamos, temos em nosso grupo de colaboradores calvinistas moderados, arminianos e wesleyano… O texto abaixo faz parte de vários artigos incluídos na coluna de debates evangélicos.

Judas foi predestinado para trair Jesus?

Judas Iscariotes era predestinado por Jesus ao lago de fogo mesmo antes ou depois da fundação do mundo?
Nesse artigo eu quero tratar de um dos apóstolos escolhido por Deus cujo nome era  Judas Iscariotes ou    אִישׁ־קְרִיּוֹת  יהוּדָה ( Hbr. Yehudhah ish Qeryoth). Iscariotes não era seu sobre nome e sim a aldeia de onde ele viera segundo São Jerónimo – seria o nome simplificado da aldeia, ou mais provavelmente um conjunto de aldeias, de Queriote-Ezron (Josué 15:25) – nome que significa “cidades de Ezron” – localizada na província romana da Judeia (no território da Tribo de Judá) e que é comumente identificada com a moderna Qirbet el-Qaryatein, situada a cerca de 20 km a sul de Hebron, ou seja, ele era o único não galileu.
Judas se tornou conhecido por ter traído Jesus, o homem que tanto o instruiu nos sermões dos montes, sinagogas, templo e etc. Há um ritual In Memorian conhecido como ‘Malhação de Judas ou Queima de Judas’ é uma tradição vigente em diversas comunidades católicas e ortodoxas que foi introduzida na América Latina pelos espanhóis e portugueses. É também realizada em diversos outros países, sempre no Sábado de Aleluia, simbolizando a morte de Judas Iscariotes.
Mas o que levou Judas a participar do consórcio para matar Jesus? Será que Cristo o escolheu para tal tarefe horrorosa, ou por ventura já era profética tal atitude e ele não podia resistir? Deus havia programado Judas a participar da morte do seu filho, ou  Ele pela sua presciência sabia que seria Judas? Para responder a essas questões eu separei alguns pontos que mostram que era impossível que Judas fosse predestinado ao lago de fogo simplesmente por um decreto manipulador da parte do Criador. Mostrarei que Jesus não foi injusto com Judas em nenhum momento e que ele teve todas as chances possíveis!
1º No capítulo 22 e nos versos 14-30 do evangelho de Lucas, é narrada uma reunião onde Cristo instituiu a ceia e que  de forma indiscutível são apresentadas 13 pessoas sendo uma delas Jesus e o restante seus ➜12 apóstolos.
Nessa mesma festividade Jesus refaz a promessa que Ele havia feito há tempos atrás quando após anunciar as boas novas ao jovem rico ele prometeu que os➜12 apóstolos se assentariam em ➜12 tronos para julgar as ➜12 tribos de Israel (Mt 19:28) e após repetir essa promessa aos➜12 apóstolos ele faz mais uma, vejamos:
“E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco(12) no reino de meu Pai.” (Mt 26.29).
Observem que Jesus Cristo reforça ainda mais o seu encontro com os 12 apóstolos presentes na mesa da ceia. Para os que creem na doutrina da predestinação fatalista fica vários questionamentos insolúveis diante das evidências bíblicas. Isso nos mostra claramente que essa doutrina desenvolvida no século XVI nunca foi crida pelos apóstolos ou pelos pais da igreja. Os predestinacionistas fatalistas ensinam que Jesus quando fez essas promessas não incluiu a Judas pelo simples fato de não ter citado entre os nomes dos➜ 12 que se “assentariam nos” ➜12 tronos para julgar as ➜12 tribos chegando até a insinuarem que Jesus fizera as promessas aos 11 apóstolos e que ou Paulo ou Matias estaria sendo insinuado por Jesus nessa noite, embora ele tenha citado o número de tronos que os tais que estavam na ceia se assentariam. E há os que creem que o fato de não aparecer no NT Judas chamando Jesus de Senhor é uma forte prova que ele não era crente de verdade. Todavia essa forma de pensar se torna um erro gravíssimo de interpretação de texto, pois nos textos onde aparece Jesus fazendo essas promessas, sempre é citado os pronomes oblíquos átonos e tônicos, VÓS, VOS e CONVOSCO, pronomes aplicados aos 12 apóstolos originais dentro desse contexto, pois como foi dito no início só estavam presentes Jesus e os seus 12 discípulos. E o fato de não aparecer no Novo testamento o apóstolo Judas chamando Jesus de Senhor em nada influi uma vez que também não vemos Bartolomeu e nem Simão o Zelote assim o chamar.
2ª Não entendemos que Judas fora predestinado ao lago de fogo por um decreto arbitrário da parte de Deus, visto que no texto bíblico são mostradas várias dádivas que somente um crente verdadeiro pode tê-las, como bem podemos ver a seguinte:
“Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades.
A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos;
  Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai.” (Mt 10:1-8 ARA)
Como lemos, Judas recebeu dádivas espirituais na mesma proporção dos demais apóstolos e ainda Jesus o enquadrou naqueles que iriam ser entregues aos sinédrios por amor do seu nome, mas que nenhum dos apóstolos temessem na hora de falar, uma vez que quem falaria por ele seria o Espírito Santo, mas que somente os que perseverassem até o fim poderiam ser salvos (Mt 10.22).
Mas há quem questione que Judas era o diabo, porem o texto diz “um diabo” e não “o diabo”, não há esse artigo definido no texto grego e sim o adjetivo cardinal εἷς :
ἀπεκρίθη αὐτοῖς ὁ Ἰησοῦς· οὐκ ἐγὼ ὑμᾶς τοὺς δώδεκα ἐξελεξάμην; καὶ ἐξ ὑμῶν ➜ εἷς διάβολός ἐστιν.
(Joh 6:70 BNT).
Logo, quando Jesus se referiu dessa forma, ele estava comparando a atitude que Judas iria cometer como as do diabo e não que ele fosse o adversário de nossas almas, posto que se Judas fosse o diabo como alguns acham, como Jesus iria dar-lhe poder para exorcizar Satanás se ele era o próprio?
“Como pode Satanás expelir a Satanás?” (Mc 3:23).
3º Se Judas fosse predestinado por Deus ao sofrimento eterno e sem nenhuma chance de ter outro destino, como poderia Jesus ter pronunciado a palavra “amigo”? Palavra explicitada em aramaico e registrada pelo apóstolo João em grego como ταρε, que segundo os léxicos e dicionários de Walter Bauer  BDAG; TDNT; EDNT; FRIBERG; LS; LEH;UBS; THAYER; GNT; LIDDELL-SCOTT e ainda LOW-NIDA da Sociedade Bíblica do Brasil pág/ 400 e o dicionário de STRONG atestam que esse vocábulo significa amigo, companheiro de lutas, camarada, meu amigo e etc…, ele a teria pronunciado como forma hipócrita, pois eu creio que Jesus quando disse “amigo”, Judas era seu amigo mesmo e que Jesus o amou até o fim (Jo 13) como fez ao orar ao Pai que não imputasse culpa aos que o crucificavam visto que eles NÃO sabiam o que estavam fazendo (Mt 27:3-4)?
Deus, na sua presciência, sempre soube que Judas faria tudo o que fez, mas isso não significa que ele não teve todas as oportunidades de fazer seu destino diferente. Judas não poderá acusar ao Soberano do Universo de ter manipulado seu destino e o predestinado de maneira arbitrária a ser um traidor desprezível. Judas deu lugar ao diabo tanto quanto Pedro. Matias poderia ter tomado o lugar de qualquer um, mas Judas fez por merecer o epiteto de TRAIDOR.
Conclusão:
Se Judas fosse um “predestinado incondicional” ao lago de fogo, ele não deveria ter recebido as promessas de:
1º Ser um dos juízes que se assentaria em um dos 12 tronos (Lc 22.30).
2º Participar da mesa com Cristo e os demais servos de Deus na glória (Mt 26.29).
3º Ser entregue aos sinédrios por amor ao nome de Jesus (Mt 10.17).
4º Receber a segurança de falar às autoridades inspirado pelo Espírito Santo (Mt 10.20).
5º E não seria jamais considerado com um amigo íntimo de Jesus, pois aquele que é amigo do mundo ou do mal se constitui INIMIGO de Deus-Jesus (Tg 4.4).
Mas porque nenhuma dessas profecias se cumpriu sobre a pessoa do apóstolo Judas? Pelo simples fato de ele não ter escolhido permanecer ou perseverar como ministro do evangelho e obedecer à voz de Deus.  Outro caso de promessas não cumpridas é a de Moisés. Moisés que tinha a promessa de entrar na terra prometida com a sua congregação, todavia essa promessa nunca se cumpriu por justamente ele ter escolhido desobedecer a Deus ao ferir a rocha ao invés de falar á rocha como o Senhor ordenara (Nm 20:8-12; Dt 32.50-52) . Ou seja, o que se cumpriu em Judas foi nada mais e nada menos do que a exclusão do seu nome do livro da vida como colheita daquilo que ele plantou como bem frisou Deus ao dizer:
“Então, disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei eu do meu livro.” (Ex 32.33).
Isto é, qualquer que tiver seu nome escrito no livro da vida, pode tê-lo riscado, basta somente permanecer em desobediência (1Tm 4.1-2; 2Pe 2). A crença de que Judas nasceu condenado nunca passou pela mente dos cristãos primitivos. Esse ideia equivocada somente  passou a ter alguma credibilidade após o movimento estatal de reforma do século XVI e não antes como podemos ver na citação de Crisóstomo:
 “Judas, meu amado, foi no princípio um filho do reino, e ouviu o que lhe foi dito com os discípulos, ‘Vós sentareis sobre doze tronos; ’ mas depois se tornou um filho do inferno.”
Amém!
Nota do CACP: O artigo faz parte de nossa série polêmicas e vale muito a pena ser lido e refletido. O artigo em si não reflete a opinião de todos os membros do CACP.

Presciência de Deus, predestinação e livre-arbítrio humano

  🕊️ 1. Jesus sabia que Judas o trairia? Sim, Jesus sabia. A Bíblia deixa claro que Jesus sabia de antemão que Judas o trairia: ...