Como pode uma natureza má escolher o bem?
Os calvinistas extremados, seguindo
Jonathan Edwards, objetam dizendo que a vontade necessariamente segue a
natureza. Esse argumento básico afirma que o que e bom por natureza não pode
desejar o mal, e o que e mau por natureza não pode desejar o bem. A menos que
Deus conceda aos homens o desejo de querer o bem, eles não podem querer o bem,
assim como pessoas mortas não podem ressuscitar a si mesmas e voltar a vida.
De acordo com o Agostinho “posterior” (v. ap. 3), Adão, antes da
Queda, era capaz de pecar ou de não pecar; apos a Queda, era capaz de pecar,
mas incapaz de não pecar, apos a regeneração, o ser humano e capaz de pecar ou
de não pecar (como Adão antes da Queda); e no céu o ser humano será capaz tanto
de não pecar quanto de pecar.
Em resposta, deve ser observado que
isso e contrario a própria posição anterior de Agostinho (v. ap. 3), de que
somos nascidos com a propensão, mas não com a necessidade de pecar. Ela torna o
pecado inevitável, antes de fazê-lo evitável. Isso significa que e inevitável
que desejemos pecar, mas não e inevitável que devamos pecar. Embora sejamos
depravados e, por natureza, pendentes para o pecado, cada pecado e livremente
escolhido. Além disso, ha diversos problemas sérios com essa posição.
Primeiramente, ela e autocontraditória,
porque sustenta duas premissas logicamente opostas: 1) o que e bom por natureza
não pode desejar o mal (visto que a vontade
segue a natureza); 2) Lúcifer e Adão, que eram bons por natureza, desejaram o
mal.
Em segundo lugar, remove logicamente
toda a responsabilidade pelas ações mas das criaturas mas (as não-regeneradas),
visto que não tem nenhuma escolha real com respeito ao mal que
praticam. Elas não podem evitar, mas fazem o que naturalmente lhes vem.
Em terceiro lugar, confunde
desejo com decisão. O fato de os homens naturalmente desejarem pecar não
significa que devam decidir pecar. Tanto a Escritura quanto a experiência nos
informam de que há uma diferença entre as duas coisas. Paulo escreve: “Não
entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio” (Rm 7.15). A
experiência pessoal revela que, as vezes, agimos contrariamente aos nossos
desejos mais fortes, tais como o de retaliar ou o de fugir a responsabilidade.
Em quarto lugar, essa ideia e
uma forma de determinismo. Ela crê que nossas ações morais são determinadas
(causadas) por outra pessoa, antes que autodeterminadas (causadas) por nos
mesmos.
Em quinto lugar, se o que e mau não
pode desejar o bem e se o que e bom não pode desejar o mal, então por que os
cristãos, a quem foi dada uma boa natureza, ainda escolhem pecar?
Muitos calvinistas extremados tentam evitar essa acusação redefinindo o
determinismo. Sproul faz isso sugerindo que “determinismo significa que somos
forcados ou coagidos a fazer coisas por forcas externas”. Isso e falácia, com
um pretexto especial. Esse raciocínio admite que ha uma determinação interna,
mas não admite que seja chamada “determinismo”, porque não houve nenhuma
determinação externa. Todavia, uma rosa, por mais que possa ter outro nome, e
uma rosa. A questão fundamental e que eles creem que forcas irresistíveis foram
aplicadas em criaturas livres, a fim de que pudessem fazer o que Deus queria
que fizessem.
Com a exceção do Agostinho posterior (v. ap. 3), nenhum teólogo
importante da patrística ate a Reforma sustentou essa ideia.
Extraído do livro “Eleitos, mas livres” de Norman Geisler
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