Salvação, o plano de Deus para a redenção humana

ESCOLHIDOS PELO PAI ― 1.4-6

O sentido das palavras “eleger” e “escolher” ― v.4

Nessa passagem temos a participação do Pai celestial na nossa redenção, como o texto mesmo indica: “...nos elegeu nele antes da fundação do mundo”. As palavras eleger e escolher têm o mesmo sentido. A forma do verbo escolher no grego está no passado, e o significado literal da expressão “nos elegeu (escolheu) nele” dá uma idéia mais forte, que é: “escolheu-nos para si mesmo”. Doutra forma, o Pai nos “elegeu em Cristo (“nele”) para sermos seus.

A questão do ato soberano de Deus ― v.4

Há quanto tempo Ele nos escolheu? “...antes da fundação do mundo”. O ato de escolher-nos antes de todas as coisas revela a presciência de Deus. A questão da presciência divina deu origem à doutrina da predestinação absoluta. Algumas correntes de interpretação têm procurado defender o ato soberano de Deus como capaz de escolher quem quer, como e quando quer. É claro que o sentido da palavra “escolher” nos obriga a raciocinar, pois o sentido desse vocábulo implica separar uns e deixar outros. Por sua presciência, Deus conhece os que hão de se salvar e os que perderão. Porém, esse fato não dá direito a nós, objetos ou não dessa eleição, de julgar ou delimitar a ação da soberania de Deus. Entendemos a vontade soberana de Deus para fazer e desfazer, salvar ou deixar de salvar, escolher ou não o que lhe apraz, mas não podemos aceitar a idéia de que Deus possa, por causa de sua soberana vontade, rejeitar um pecador arrependido. A vontade soberana de Deus tem seu princípio na justiça, e a escolha dos crentes é feita segundo a obra expiatória de Cristo Jesus, seu Filho, que cumpriu a justiça exigida para dar oportunidade a todos quantos o aceitam por Salvador e Senhor. Assim como a pregação do Evangelho engloba todas as criaturas na face da terra, também é global o alcance da vontade soberana de Deus na escolha dos salvos. Nossa fé em Cristo e a aceitação de sua obra redentora são a base de nossa eleição. Assim como o povo de Israel foi escolhido em Abraão, os crentes neotestamentários foram escolhidos em Cristo.

O destino dos crentes feito na eternidade ― v.5

“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo”. Esse versículo indica que o destino foi determinado antes. A palavra “predestinar” mostra que o destino dos eleitos foi feito na eternidade. A expressão “filhos de adoção por Jesus Cristo” apresenta a posição atual dos crentes. No passado éramos apenas criaturas de Deus, afastadas da sua comunhão, mas pela fé em Cristo (Gl 3.6) fomos recebidos como filhos e conquistamos a posição de filhos legítimos (Jo 1.12).

Escolhidos para filhos ― v.5

Fomos feitos filhos de adoção “para si mesmo”. Isso revela o passado e o presente dos crentes. Todos fomos feitos e criados para viver em comunhão com Deus, como filhos de Deus (Gn 1.26; At 17.28). Pelo pecado, tal privilégio se perdeu, mas pela graça de Deus, em Cristo e através dEle, fomos restaurados à filiação (Jo 1.12). Esse ato divino foi feito em Cristo segundo “o beneplácito de sua vontade”, isto é, a vontade soberana de Deus e o seu grande amor (Rm 5.8) promovem essa eleição. Todos os que nascem de novo (Jo 3.3) nascem segundo o supremo propósito divino para viver e servir a Deus.

Escolhidos por causa do Amado ― v.6

“Para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado”, v.6. Nesse versículo, a segurança de nossa aceitação como filhos de Deus está no Amado, que é Cristo. Ele é o Filho amado de Deus (Mt 3.17; 17.5), e em Colossenses 1.13 temos uma expressão paralela que afirma ser Jesus “o Filho do seu amor”. A graça de Deus se manifestou a nós por causa do seu amado Filho – Jesus!


REMIDOS PELO FILHO ― 1.7-12

Jesus, o Redentor ― v.7

A parte da redenção compete ao Filho de Deus, Jesus Cristo. Ele é o nosso Redentor. Para entendermos este assunto devemos conhecer o sentido da palavra redenção, que significa comprar outra vez. Cristo pagou o preço de nossa redenção. Visto que Ele foi o preço dessa redenção, fomos libertados para Deus (Mt 20.28). O homem não pode redimir-se por outro meio que não seja a obra expiatória de Cristo. Ser redimido é a necessidade básica que o pecador tem da graça de Deus.

O fato da redenção ― v.7

“...em quem temos a redenção”. A redenção está ligada à idéia de sacrifício com derramamento de sangue (Lv 17.11; Hb 9.22). A morte de Jesus com o derramamento do seu precioso sangue resultou na remissão de nossos pecados. O efeito da redenção é a nossa justificação (Rm 5.1). Todos os pecados forma expiados pelo sangue de Cristo, como diz ainda o versículo: “...pelo seu sangue, a remissão das ofensas...”. A remissão dos pecados foi um ato do amor grandioso de Deus, conforme registra a Escritura em continuação: “...segundo as riquezas da sua graça”. O acesso às riquezas da graça de Deus é precedido pela remissão dos pecados, que deve ter ação constante contra os pecados involuntários que cometemos, pois se a pena do pecado foi apagada na cruz, temos agora de vigiar contra o poder do pecado que procura impedir nossa comunhão verdadeira com Deus.

O efeito da redenção ― v.8

“Que ele fez abundar para conosco”. A abundância das “riquezas da sua graça” (v.7) terá sua efetivação mediante o perdão dos pecados, “em toda a sabedoria e prudência”. O sentido dessa expressão indica o pleno conhecimento que todo crente deve ter de si mesmo, de sua salvação, de seu estado moral e de suas relações com Cristo. A forma de vida que adotamos como crentes é que determina a disposição de Deus para que abundemos nas “riquezas da sua graça”. A benção da redenção no verso oito é estritamente divina, sem nenhum mérito humano.

A revelação do mistério da redenção ― v.9

“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade”. Qual será esse mistério? Qual é o mistério da sua vontade descoberto hoje? É a salvação eterna em Cristo Jesus, revelada como o “mistério da piedade” (1Tm 3.16) Esse mistério glorioso “se fez carne” na Pessoa de Jesus Cristo (Jo 1.14).

A dispensação da redenção ― v.10

“...dispensação da plenitude dos tempos”. A palavra “dispensação” significa administração. O Novo Testamento emprega essa palavra para referir-se às diferentes administrações das bênçãos de Deus. A Bíblia fala de sete dispensações, e cada uma equivale a um período especial em que Deus administrou sua economia na terra. No grego, a palavra “dispensação” é oikonomia e dela deriva a palavra “economia”. No uso bíblico, dispensação é a administração divina sobre todas as coisas criadas. O sentido literal é a administração de assuntos de uma casa.

A plenitude dos tempos da redenção ― v.10

“Plenitude dos tempos” é uma expressão que indica o fim de uma época ou de um período em Cristo colocará cada coisa no seu lugar, e tudo quanto Deus planejou em Cristo, segundo o seu eterno propósito, alcançará completa realização. Nos versículos anteriores, Cristo completou a obra que tinha que fazer em relação à salvação da humanidade; completada toda a obra, Deus Pai reunirá “em Cristo todas as coisas”. A expressão “todas as coisas” inclui “tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Cl 1.16-19) e devem ser reunidas em Cristo. TUDO deve ser renovado e restaurado em Cristo. O sentido da palavra “reunir” é recapitular, ou somar em um, ou unir sob uma cabeça. é o que Deus fará! Um dia Deus juntará em Cristo todos os remidos pelo seu sangue. A redenção efetuada por Cristo inclui o céu e a terra, quando Ele restabelecerá tudo para uma nova vida, um novo reino espiritual e eterno, em que os ímpios e os demônios serão lançados fora da presença de Deus para sempre (Ap 21.8). A expressão “juntará todas as coisas em Cristo” não se limita apenas à Igreja arrebatada, mas refere-se também a todo o universo. A parte final do versículo – “tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” – inclui toda a criação. Homens e anjos, absolutamente tudo há de encontrar seu fim no grande vitorioso: JESUS (Cl 1.15,16).

A grande benção da redenção ― v.11

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança”. O direito à herança é alcançado, não por mera casualidade nem por méritos humanos, mas pela graça de Deus, pelo cumprimento do seu propósito, tornando-nos aptos para receber esta gloriosa benção – “feitos herança” – do Senhor. No Antigo Testamento o povo de Israel era a herança de Deus, mas perdeu esse direito por sua incredulidade. Em seu lugar, isto é, em Cristo, fomos feitos herança sua. O texto indica que nos fez herança dEle, conquistada no Calvário por Ele e para Ele. Agora somos co-herdeiros com Cristo da herança que Deus nos tem preparado na eternidade, segundo o seu eterno propósito.

A predestinação no propósito da redenção ― v.11

“...havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas”. A colocação da palavra “predestinação” nesse texto tem dado margem a uma interpretação errada sobre a questão da soberania de Deus. O fato da soberania de Deus é incontestável, mas o resultado proposto por muitos intérpretes é injusto, pois torna este Deus, soberano em sua vontade, injusto e incoerente com sua própria Palavra. Deus é soberano e faz o que lhe apraz, mas Ele é justo e imparcial, dando a todos os homens a mesma oportunidade. Entretanto, Deus conhece aqueles que lhe servem e os que não querem servi-lo. O significado da palavra “predestinar” é estabelecer o destino antes. Deus estabeleceu o destino de todos os que aceitaram a Cristo como Senhor e Salvador para pertencerem à herança divina. Em Romanos 8.28, a Escritura diz que somos “chamados por seu decreto”. O destino dos crentes em Cristo está predestinado automaticamente para a salvação. O livre-arbítrio das pessoas indicará o seu destino escolhido. Na aceitação ou rejeição da obra de Cristo se cumprirá a soberana vontade de Deus. Ele conhece cada ser humano, em todos os tempos, e não se esquece de nenhum detalhe. Conhece os milhões e milhões de corações livres para decidirem sobre suas próprias vidas, e Ele sabe quais e quantas aceitarão sua vontade divina.

A soberania do conselho da vontade divina na redenção ― vv.11,12

A gloriosa esperança dos crentes está no fato de que Deus fez tudo “segundo o conselho da sua vontade” (v.11). Esse conselho indica a Trindade constituída do Pai, do Filho e do Espírito Santo decidindo o destino dos homens. As palavras “predestinados”, “propósito”, “conselho” e “vontade” estão em íntima relação e mostram claramente toda a soberania de Deus. O fim desse propósito divino revela-se no verso 12, quando diz que alcançamos essas bênçãos “para louvor da sua glória”.

A promessa da redenção para judeus e gentios ― v.12

As palavras finais do versículo dizem: “...nós, os que primeiro esperamos em Cristo”. A quem Paulo está se referindo? Aos judeus, visto que ele mesmo era judeu. A colocação da frase indica o seu estado anterior quando desconhecia a Cristo. Paulo estabelece aqui o contraste entre os judeus e os gentios para mostrar que, tanto uns quanto outros, têm o mesmo direito de posse em Cristo. Por outro modo, Paulo designa os judeus (“nós”) que esperavam a promessa da primeira vinda de Jesus (Is 53) quando diz: “...nós, os que primeiro esperamos”. Depois, no verso 13, ele se dirige aos gentios convertidos (“vós”) que têm recebido o “Espírito Santo da promessa”. Portanto, judeus e gentios têm os mesmos direitos e privilégios em Cristo Jesus, nosso Senhor.

SELADOS COM O ESPÍRITO SANTO ― 1.13,14

O verso 13 diz literalmente: “...e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa”. Aqui Paulo inclui tanto judeus como gentios na participação da promessa do Espírito Santo. A expressão inicial “tendo nele crido” refere-se naturalmente a Cristo, e o pronome “vós” indica os que haviam crido em Cristo. No versículo 12 Paulo usou o pronome “nós” para referir-se aos judeus, e no 13, o pronome “vós” para referir-se aos gentios participantes da mesma benção.

O ministério do Espírito Santo na redenção ― vv.13,14

Os dois versículos apresentam o ministério do Espírito Santo revelando-nos que, sem a participação dEle para promover a fé em Cristo (Jo 16.8-10), a salvação seria incompleta. O Pai a planejou, o Filho a providenciou e o Espírito Santo a aplicou. É a Terceira Pessoa da Trindade quem nos leva a nos apropriarmos dessa fé em Cristo.

O selo da redenção ― v.13

“...fostes selados”. O ato de selar tem o significado de marcar alguma coisa. É publicar o direito de posse sobre o objeto selado. Quando cremos em Jesus, o Espírito Santo procura assegurar seu direito de posse sobre nós, não importa a classe, raça ou língua. Em Cristo tornamo-nos um só povo, tendo a mesma marca – o Espírito Santo. Várias são as razões pelas quais se usa um selo. Primeira, para certificar e confirmar como verdadeira alguma coisa. Segunda, para assinalar propriedade particular. Terceira, para assegurar direito de posse. O testemunho desse selo nos crentes se encontra em várias passagens bíblicas, como Romanos 5.5; 8.16 e 1 João 5.10.

A identificação do selo como promessa ― v.13

“...com o Espírito Santo da promessa” é uma expressão que indica a promessa divina feita tanto no Antigo como no Novo Testamento. A promessa da operação do Espírito Santo em nós, sobre nós, ao redor e dentro de nós explica o sentido do versículo 13. O fruto do Espírito (Gl 5.22) é o resultado vibrante e visível do selo do “Espírito Santo da promessa” nos crentes.

O penhor da redenção ― v.14

“O qual é o penhor da nossa herança”. Outra vez fala do Espírito Santo. A palavra penhor tem o sentido de alguma coisa de valor dada para assegurar o direito de posse. A continuação do verso – “para a redenção da possessão de Deus” – aclara o 13. Notemos que a possessão espiritual é recíproca, pois tanto é nossa quanto é de Deus. Temos posse do Espírito Santo, e essa possessão assegura o mesmo direito a Deus – somos dEle! Nossa herança é ampla, pois a temos em parte aqui na terra, como a temos no Céu, e o Espírito Santo em nós é direito à herança prometida no Céu.

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