O homem pode resistir a Deus?
Há textos onde o homem resiste a
Deus. Em Isaías, por exemplo, Deus diz: “Quando eu vim, por que não encontrei ninguém?
Quando eu chamei, por que ninguém respondeu? Será que meu braço era curto
demais para resgatá-los? Será que me falta a força para redimi-los? Com uma
simples repreensão eu seco o mar, transformo rios em deserto; seus peixes apodrecem
por falta de água e morrem de sede” (Isaías 50.2)
Se tudo é decretado por Deus (como
ensinam os fatalistas), por que ele não decretou que os israelitas responderiam
ao chamado dele e que seriam redimidos? O texto deixa claro que Deus procurou, mas não encontrou ninguém. Para os
deterministas fatalistas, foi o próprio Deus que determinou que ninguém
responderia, e ele que decretou que ninguém creria. Em outras palavras, Deus
estaria reclamando com os israelitas por estarem obedecendo a um
decreto imutável dele mesmo, contra o qual eles nada poderiam fazer em
contrário.
Mas, que o texto não indica isso, é
óbvio pelo fato de Deus estar dizendo que seu braço não era curto demais para
resgatá-los, nem faltava-lhe força para redimi-los. Ou seja: Deus estava disposto a resgatá-los, mas eles rejeitavam serem
resgatados. Isso implica que nem tudo neste mundo é determinado por Deus, senão
a própria rebelião dos israelitas teria sido decretada por ele e,
consequentemente, seu chamado e sua disposição em salvar seriam falsos e
fúteis.
Outro texto que já vimos é o de
Jeremias 19.5, onde Deus diz: “Construíram nos montes os
altares dedicados a Baal, para queimarem os seus filhos como holocaustos
oferecidos a Baal, coisa que não ordenei, da qual nunca falei nem jamais me veio
à mente” (Jeremias 19.5)
Deus não ordenou, não pensou nem
falou nada daquilo, mas, para os fatalistas predestinacionistas, aquilo havia
ocorrido exatamente em cumprimento de um decreto dele mesmo. Deus teria
decretado que os israelitas apostatariam da fé e queimariam seus filhos em
sacrifício a um deus pagão, e depois teria dito que nunca ordenou uma coisa
dessas, como uma típica escusa. É lógico que este texto indica que pelo menos
este acontecimento não foi ordenado por Deus, e, sendo assim, Deus não poderia
ter decretado tudo – sendo o fim do determinismo.
Algo semelhante Deus diz em
Oseias: “Eles instituíram reis sem o meu consentimento; escolheram líderes
sem a minha aprovação. Com prata e ouro fizeram ídolos para si,
para a sua própria destruição” (Oséias 8.4)
Deus diz que os reis fizeram
aquilo sem o consentimento dele,
quando, na verdade, os fatalistas creem que eles fizeram aquilo justamente em
cumprimento a um decreto dEle mesmo. Deus decreta aquilo, determina, faz
com que aconteça, e depois diz que não consente naquilo que ele mesmo ordenou!
Como os líderes dos israelitas teriam sido escolhidos sem a aprovação de Deus,
se, na verdade, foi o próprio Deus que determinou a escolha destes líderes
antes da fundação do mundo, e os homens estavam apenas cumprindo uma
determinação irresistível?
Neste caso, teríamos que concluir que
Deus decreta algo e não consente nisso; que ele determina algo que não aprova.
Um deus como esse nos deveria causar medo, pois seria tão instável quanto
um ser humano, que faz coisas sem pensar e depois as repudia. Alguém que
pergunta ao homem que pecou: “que é isto que fizeste?” (Gn 3.13), quando, na
verdade, foi ele mesmo que decretou aquele pecado.
Finalmente, há também aqueles
versículos que mostram o homem rejeitando o propósito ou plano de Deus na vida
dele. Os “fariseus e os peritos na lei rejeitaram o propósito de Deus para
eles, não sendo batizados por João” (Lc 7.30), e Jesus chorou
sobre Jerusalém (Lc 19.41), dizendo: “Quantas vezes quis eu reunir
os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós
não o quisestes!” (Mt 23.37).
Estes textos implicam que o
homem pode resistir ou rejeitar o plano de Deus na vida deles. Não era do
plano nem da vontade de Deus que os fariseus e os peritos da lei não fossem
batizados por João, mas eles não foram. Também não era da vontade de Jesus que
os judeus rejeitassem os profetas e abandonassem a Deus, mas eles abandonaram.
Jesus queria reuni-los, mas eles não quiseram. Ele quer o bem para todos, mas
muitos o rejeitam e cavam o seu próprio abismo.
Diferente do determinismo, onde Deus
traça planos terríveis para a vida das pessoas, incluindo uma série de
pecados mortais que culminam na morte eterna, na Bíblia ele planeja sempre o
nosso bem e deseja sempre o nosso melhor, mas somos nós que rejeitamos este
plano e que assinamos nossa própria perdição. Deus permanece sempre justo e
amoroso, “bom para com todos” (Sl.145.9). O homem é quem destrói
tudo. O homem é o responsável.
Extraído do livro Calvinismo X
Arminianismo – cedido pela comunidade Arminiana no facebook.
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